SOLITUDE


Todos estão à volta. Cantam, aplaudem, fazem barulho. Sorrisos e olhares parecem ter apenas um destino. De repente, tudo em volta fica suspenso, fora de foco, distorcido.

É chegada a hora. O cérebro confabula consigo próprio. Dá ordens. "Pensa logo em alguma coisa, vamos! Você tem que desejar alguma coisa!"

Mas não há desejos, não há nada. A angústia de uma ausência indesejada clama pela brevidade do instante. "Acabe logo com isso!"

Apagaram-se as velas. Com um sopro, o último traço de luz que ainda proporcionava uma leve penumbra se esvaiu.

Por um momento, fez-se silêncio. Não há mais olhares nem sorrisos. A quietação, com ela, trouxe a solitude, ainda transitória.

Uma eternidade consubstanciada em um breve momento. O som do silêncio parece ensurdecedor. Há uma tensão profunda, ansiedade, desespero. Onde estão todos? Estavam logo aqui!

Uma pausa sem fim. Um instante que se renova. Uma aflição que não se despede.

Subitamente, um leve clique traz de volta a luz. Tudo se ilumina e se ofusca. Todos voltam aos lugares de outrora.

Vem o barulho, mas o silêncio permanece. Olhares curiosos. Sons de colheres nos pratos, risadas, afagos e beijos estalados.

Um espanto se achega. Palpitação. Todos voltaram. Estão desfocados, borrados por manchas em mosaico. Só há ela, clara, frondosa, risonha, de braços abertos em um gesto macabro de boas vindas.

O olhar se aventura em fuga. Não dá. Lá está ela, a solidão, em nítida imagem para onde quer que olhe.

Todos estão à volta. Faz-se barulho. Mas, o silêncio, permanece.

Até a próxima.
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