O ÓBVIO ULULANTE


No final da noite de ontem, quando saltava de canal em canal procurando algo de interessante na TV, me deparei com o delegado federal - isso deve ser um motivo de desonra para os demais colegas da classe - Protógenes Queirós sendo entrevistado no programa É Notícia, da Rede TV!.

Crispado, enfrentei um duelo existencial ao por os olhos naquela figura repugnante. Me perguntava: mudar ou não mudar de canal? O fato é que tenho tanta ojeriza pelo falso xerife que tenho me privado de testemunhar os lamentáveis atos e as declarações do sujeito.

Bastou ver seu semblante de pseudo homem probo que, imediatamente, me lembrei de uma matéria que li, dia desses, em um grande jornal carioca que me esforço para não escrever o nome. Dizia o veículo midiático que Protógenes fazia acordo político para escolher o partido pelo qual seria lançado candidato a deputado federal.

Mais uma vez minha memória me convidou para uma viagem a um passado recente. Lembrei-me que, assim que começaram as abusivas e cinematográficas prisões da operação Satiagraha, com todos os holofotes apontados para o delegado-justiceiro, profetizei: "Esse cara tá querendo aparecer. Não respeita nada nem ninguém. Se julga acima do bem e do mal. Acha que tá acima da lei e faz qualquer coisa pra fazer dessa operação um sucesso. Aposto quanto quiserem que, dentro de pouco tempo, esse sujeito vai querer se candidatar a alguma coisa. Provavelmente vai querer ser deputado federal, uma coisa assim. Vai se juntar aos seus no Congresso Nacional." Por mais visionário que parecesse eu dizia apenas o óbvio. Era o óbvio ululante.

Já dizia o saudoso e admirável Nelson Rodrigues (gênio, gênio, gênio!) que "só os profetas enxergam o óbvio". Em um país tão cego como esse, em que o povo se deslumbra diante dos atos mais opressivos e macabros do poder público, não se pode negar que, em certos momentos, anunciar o óbvio parece uma visão do futuro.

O mais interessante é que o pseudo paladino da justiça já fala com tom de salvador da pátria. Ontem dizia ele, em rede nacional, que hoje há dois Brasis. O Brasil de antes da Satiagraha e o Brasil de depois da operação. Ia além. Dizia que o povo brasileiro já não aceita mais ser enganado, não se renderia aos supostos criminosos poderosos que querem dominar o país.

O mais curioso é que, sem nenhuma modéstia, o dito cujo falava como se atribuísse essa "revolução social" a si próprio. Mais um pouco e ele teria soltado aquela clássica: "nunca antes na história desse país...".

Agora vejam, o sujeito passa por cima das leis que jurou proteger, desrespeita os investigados submetendo-os ao mais intenso escárnio público, divulga informações sigilosas - sabe-se lá a troco de que - para poucos veículos de imprensa se esbaldarem com supostos "furos jornalísticos", enfim, faz o que bem entende orientado apenas por seus próprios interesses e agora posa para as câmeras como se fosse o espelho da probidade.

Fico torcendo para que, ao menos dessa vez, o povo desse país consiga ver o óbvio. O pior é que, em casos como esse, a esperança acaba se rendendo à realidade. Mas não, dessa vez vou me esforçar. Não quero ver o óbvio! Vou apenas torcer. Torcer para que os eleitores não vacilem mais uma vez diante das urnas.

Já imaginaram uma Câmara com Jair Bolsonaro, Marina Maggessi, Protógenes Queirós e companhia? Nesse ritmo, daqui a pouco vai ser crime pensar. Sim, porque se pensarmos...

Até a próxima.
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