SOFRIMENTO RUBRO-NEGRO 2


Há alguns dias atrás lhes contei sobre um inesperado encontro que tive com um grande amigo, flamenguista absolutamente fanático, que, infelizmente, traduzia em seu semblante uma tristeza lamentável, típica de um ser absolutamente desacreditado. Falei-lhes, nessa oportunidade (leiam aqui), que todo o sofrimento por que passava meu grande amigo tinha causa na atual crise do nosso amado Flamengo, clube a que ele tem se dedicado a tentar ajudar com o exercício de tarefas consultivas e voluntárias.

Pois bem. Na sexta-feira última, eu caminhava pelo centro da minha amada cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro quando, por acaso, como obra de um destino saudoso de velhos amigos, encontrei o Fulano - a quem deixo de nominar para preservar-lhe o anonimato entre seus colegas de clube - novamente com expressão de visível desânimo.

De braços abertos, como um Redentor que não se cansa de abraçar a terra amada, fui ao seu encontro, deixando-me revelar um gesto de notória deferência.

— Mas que satisfação enorme te encontrar por aqui de novo, meu querido! — saudei-o efusivamente, na expectativa de que meu festejo o contagiasse e espantasse sua fiel e companheira angústia.

— E aí, Felipe, tudo bem? — respondeu-me, com uma espécie de cumprimento protocolar.

Numa nova investida para sacudir-lhe os ânimos, perguntei em um tom esperançoso:

— E aí, como anda o Flamengo? Será que agora, com essa renovação na diretoria do futebol e as eleições que estão por vir vamos ter alguma coisa boa? Sabe como é, às vezes vontade de trabalhar e novas idéias...

Nesse momento, meu velho cúmplice lançava sobre mim um olhar que me atravessava e parecia repousar na infinda e tênue linha do horizonte.

Já sem a animação que havia açulado a pergunta que acabara de fazer, emendei, agora já contagiado pela sua expressão tristonha:

— Se bem que o atual presidente em exercício, o tal do Delair Dumbrosck, vai concorrer, né? Será que ganha?

Após ouvir minhas indagações, esforçou-se para acordar seu olhar em descanso no horizonte e, com a fronte crispada, fitou-me com uma feição de desalento marcante.

— Meu amigo, eu já não sei quem ganha. Tô quase desistindo. Dizem que nada é tão ruim ao ponto de não poder piorar, não é verdade?

— Pior é que é.

— Pois é. Por isso mesmo que eu tô com medo dele ganhar. Aí a coisa desanda de vez.

— Mas ele é tão ruim assim? — perguntei, surpreso pelo elevado tom de lamentação que carregavam suas palavras.

— Imagina um cara muito burro, uma besta falante, uma obra de um cientista-veterinário que tenha conseguido ensinar uma mula a andar e a falar, imaginou? Pois é, ele é pior! — À essa altura, o velho companheiro deixava de lado seu desânimo e parecia tomado por um furor abrupto, uma raiva colossal.

— Vou te contar uma que você não vai acreditar!

— Conta, conta! — Instiguei ao vê-lo embebido em emoções fortes. A verdade é que já não aguentava mais aquele seu aspecto cabisbaixo. Por mais macabro que possa parecer, me animava vê-lo passional, ainda que movido por sentimentos repugnantes. Via que, pelo menos, um pouco do meu amigo retornava durante aquela conversa. 

— Há algum tempo atrás, no auge da crise financeira do Flamengo, na época em que o Márcio Braga havia dito aquela frase marcante do "acabou o dinheiro", o Delair convocou uma coletiva de imprensa e pediu para que vários funcionários e atletas fossem.  Pra você ter uma idéia, tinha gente ali que não recebia há uns quatro meses. Tava faltando dinheiro pra tudo. Uma porrada de lugares sujos porque os coitados dos funcionários da limpeza não iam trabalhar porque nem dinheiro pra pagar a passagem tinham, dá pra acreditar?

— Que coisa, hein! Mas continua, continua! — eu pedia ansioso por aquela história.

— Então... - aquilo me soou um tanto quanto paulistês, o que me deu calafrios, mas tentei voltar minha atenção para a conversa - Todo mundo que tava lá na coletiva estava esperando o Delair anunciar novas medidas da presidência que iriam dar fôlego pro clube, incentivar todo mundo a trabalhar, enfim, o pessoal tava na expectativa das tais ações que iriam colocar o clube de volta às cabeças.

Houve uma pequena pausa, meu amigo desviou o olhar rapidamente para baixo, deu um pequeno sorriso ignóbil, tomou fôlego, pôs a mão direita sobre meu ombro esquerdo e prosseguiu:

— Nessa hora veio a melhor parte! A imprensa toda olhando pra cara daquele imbecil e ele então começou a defecar pela boca, como faz de costume, só que, dessa vez, em público, pra quem quisesse ouvir. O babaca levantou o dedo, como se fosse fazer uma revelação maravilhosa, e disse que a prioridade do Flamengo naquele momento de crise era pintar os muros da Gávea! Falou que nem precisava de dinheiro pra isso, porque estava numa grande campanha junto à nação rubro-negra para conseguir doações de tinta. Falou que já tinha conseguido 250 galões e vários torcedores voluntários para pintar os muros do clube. Aí, diante da cara-de-babaca coletiva, ele disse que ir trabalhar todos os dias num clube adorado como o Flamengo, com os muros pintados era outra coisa, que tinha certeza que isso iria dar outro ânimo pros atletas e funcionários! E continuou dizendo que contava com a colaboração de todos que estava ali pra que vencessem "mais essa"!

Eu tentava segurar meu riso, diante da tragédia cômica que me era relatava. O meu prezado não chegou a dar espaço para qualquer comentário e continuou o desabafo:

— Agora veja você, todo mundo sem receber, puto da vida com os salários atrasados, gente que não tinha dinheiro nem pro ônibus, o Flamengo numa crise financeira de dar dó, devendo mais de 350 milhões de reais, juros pra cacete nos cornos, numa fase horrorosa no futebol e em vários outros esportes e o cara vem dizer que a prioridade dele era pintar os muros do clube?! Só pode estar de sacanagem com os torcedores e, pior, com os funcionários, né? Mas você não sabe da pior...

— Tem mais? retruquei numa incredulidade desafiadora.

— Ah, se tem! Depois desse fiasco aí de pintar a Gávea, foram descobrir que os muros estavam todos cheios de infiltrações. O resultado foi que depois de já terem pintado os muros, tiveram que pagar a uma construtora para resolver o problema das infiltrações e, depois, pintar de novo. Agora, passa lá na Gávea e observa só. A cara-de-pau é tamanha que o imbecil só pintou os muros que estão virados pras avenidas. Os outros continuam caindo aos pedaços. E o pessoal sem receber... Dá é raiva!

Sem saber o que dizer ao amigo enfurecido, olhei o relógio e, como se tivesse acabado de lembrar de um compromisso inadiável, pus repentinamente a mão sobre a testa dizendo estar atrasado para uma reunião. Despedi-me e desejei dias melhores ao pobre-diabo.

Caminhava pela rua e continuava a pensar sobre a sucessão de bestialidades cometidas pela administração do Flamengo. Sacudi a cabeça espantando os pensamentos, pois, como vocês sabem, meus queridos leitores, poderia ser muito pior. Com esse talento todo para estupidez e imbecilidade, o Delair, na atual conjuntura, poderia até ser prefeito do Rio de Janeiro. Mas essa é uma história para nosso próximo encontro.

Até a próxima.

PRECIOSIDADE


Outro dia navegava pela internet e lia os blogs de minha preferência (os que estão indicados aqui ao lado direito, na seção "VALEM O CLIQUE", são realmente muito recomendáveis) e me dava conta de um fato interessantíssimo. É impressionante como esses sítios eletrônicos revolucionaram - ao menos na minha humilde opinião - a rede mundial de computadores e contribuem sobremaneira para o desenvolvimento da cultura, da arte, da literatura e, consequentemente, da escrita.

Há algum tempo atrás, a única forma de tornar nossos próprios textos acessíveis ao grande público seria por meio de publicações impressas, sejam elas livros, revistas, jornais e etc.

Não preciso ressaltar a dificuldade que tal aspecto impunha a qualquer indivíduo que tivesse o admirável desejo de compartilhar com os demais seus escritos. Regras e políticas editoriais particulares, acesso restrito a esses veículos e, acima de tudo, o custo imposto aos leitores que tinham de adquirir as publicações para que pudessem, assim, se deleitar com a leitura.

Hoje, graças ao blog, esse meio de comunicação fabuloso, vivemos uma época de farta e salutar democratização da publicação virtual. Com simples cliques e nenhuma complicação, qualquer pessoa pode criar sua página pessoal e deixar fluir sua criatividade, proporcionando momentos impagáveis de prazer e engrandecimento cultural aos seus leitores. E o melhor, tudo isso a um custo zero.

Digressões à parte, fiz esses breves comentários introdutórios para compartilhar com vocês, meus queridos leitores, um texto, sob o título de "Cantigas de um quase atropelo" (a genialidade já começa no título) que li no blog Pendura essa (visitem aqui). Impressionou-me a rítmica e a sensibilidade do autor. Mas deixarei que tirem suas próprias conclusões sobre essa bela obra abaixo reproduzida, com a devida autorização do Paulo Thiago, seu brilhante autor.

"Querida amiga, a grande avenida se estendia muito além dos meus passos, a luz baixa do sol incendiava os olhos e a cabeça seguia longe, um tanto letárgica pelo mormaço. O calor afetava o cerebelo e me doíam os ossos ao pisar o chão. Por onde andaria você? Me perguntava entre as muitas coisas que me queimavam o peito. Nunca mais tivera notícias desde aquele adeus chuvoso, muitos invernos atrás, numa esquina de idioma estrangeiro, para lá dos trópicos. De repente, num cruzamento, o sinal fechando, respondo instintivamente à buzina. O chamado era para mim e nosso era o carro. O velho guerreiro de estradas esquecidas, que compartilhamos naquele tempo transformado em mais-que-perfeito pelo sortilégio da memória. Sincronicidade, pensei sem pensar, já atravessando a rua em sua direção, sorriso de ponta a ponta. Mas estanquei com o assovio da freada brusca do outro carro que vinha apressado, animal japonês de todas as tecnologias, para ocupar o espaço vazio entre a calçada e o nosso velho jipe, parado na faixa do meio, preguiçoso. Foi por pouco, amiga. E, no fim, só o triz de um susto e a constatação de que não era, afinal, você ao volante. E, enquanto o japonês me xingava a desatenção, percebia: tampouco era o nosso velho carro. Nem sequer sincronicidade; apenas desejo e fantasia. O alguém que agora estava atrás do volante eu conhecera outro dia. Me dizia, assustada, cuidado! E eu concordava, constrangido. Certamente não valeria a pena ser atropelado pela saudade."

Até a próxima.

AMIZADE SINCERA


Não consigo esconder a admiração e o carinho que eu tenho pelos animais.

Desde muito pequeno sempre tive cachorros em minha casa, razão pela qual frequentemente me apego com um amor verdadeiramente fraternal a esses bichos.

Aliás, há amizade mais pura que a de um cão por seu dono? É umas das poucas relações em que não há a menor dúvida da total ausência de qualquer tipo de interesse não declarado. Basta chegarmos em casa e o fiel companheiro faz uma festa enorme, absolutamente sincera. E o que espera em troca é apenas um afago, um pouco de atenção e carinho.

Mas devem estar se perguntando o porquê de hoje eu escrever sobre esse assunto. É que navegava pela internet quando encontrei um vídeo (assistam abaixo) que me comoveu.


Vejam que relação mais carinhosa essa do patinho com o cachorro. A natureza, por diversas vezes, me surpreende com sua perfeição. Animais de espécies absolutamente diferentes e que, em tese, não poderiam ter um convívio muito amistoso.

Entretanto, o que se vê é uma diferença totalmente superada e um amor que afasta a carência e a solidão para uni-los.

Não é raro me pegar pensando que, em diversos momentos, deveríamos aprender com os animais. Se eles, instintivos e supostamente irracionais, superam qualquer diferença com comportamentos de carinho, de amizade e de amor, porque nós, seres humanos, não poderíamos fazer o mesmo?

Talvez fosse uma boa lição para a sociedade passar a ser mais tolerante e colocar as diferenças de lado em nome de um bem comum.

Depois de ver esse vídeo, estou, definitivamente, convencido. Nós deveríamos aprender com os animais...

Até a próxima.

SOLITUDE


Todos estão à volta. Cantam, aplaudem, fazem barulho. Sorrisos e olhares parecem ter apenas um destino. De repente, tudo em volta fica suspenso, fora de foco, distorcido.

É chegada a hora. O cérebro confabula consigo próprio. Dá ordens. "Pensa logo em alguma coisa, vamos! Você tem que desejar alguma coisa!"

Mas não há desejos, não há nada. A angústia de uma ausência indesejada clama pela brevidade do instante. "Acabe logo com isso!"

Apagaram-se as velas. Com um sopro, o último traço de luz que ainda proporcionava uma leve penumbra se esvaiu.

Por um momento, fez-se silêncio. Não há mais olhares nem sorrisos. A quietação, com ela, trouxe a solitude, ainda transitória.

Uma eternidade consubstanciada em um breve momento. O som do silêncio parece ensurdecedor. Há uma tensão profunda, ansiedade, desespero. Onde estão todos? Estavam logo aqui!

Uma pausa sem fim. Um instante que se renova. Uma aflição que não se despede.

Subitamente, um leve clique traz de volta a luz. Tudo se ilumina e se ofusca. Todos voltam aos lugares de outrora.

Vem o barulho, mas o silêncio permanece. Olhares curiosos. Sons de colheres nos pratos, risadas, afagos e beijos estalados.

Um espanto se achega. Palpitação. Todos voltaram. Estão desfocados, borrados por manchas em mosaico. Só há ela, clara, frondosa, risonha, de braços abertos em um gesto macabro de boas vindas.

O olhar se aventura em fuga. Não dá. Lá está ela, a solidão, em nítida imagem para onde quer que olhe.

Todos estão à volta. Faz-se barulho. Mas, o silêncio, permanece.

Até a próxima.

AOS AMIGOS, COM CARINHO


Dificilmente eu poderia ter uma motivação maior e mais feliz do que escrever aos meus amigos em um dia reservado às homenagens que sempre serão diminutas, se comparadas à grandiosidade de suas existências.

Eu sempre disse que amigos são irmãos que a vida nos permitiu escolher. Algumas vezes temos a sorte e o prazer de termos esses irmãos-de-fé dentro de nossas próprias famílias. Mas, desculpem-me os conservadores, o sentido de família se amplia para além dos laços sanguíneos quando pensamos nos amigos verdadeiros, aqueles "de tantos caminhos e tantas jornadas", aqueles que dividem conosco nossa felicidade e sofrem junto na tristeza, aqueles que a simples presença voluntária faz com que o mundo se torne um lugar mais afável.

Outro dia, li, emocionadíssimo, um texto sobre mim em que meu querido amigo me definiu como "um irmão que a vida me deu". Considerando-se a perspicácia e a inteligência do sujeito, não tenho dúvidas de que ele saiba o quanto essas singelas 7 palavras, juntas, dessa forma, significaram para mim.

Pois é, "irmãos que a vida me deu". É a eles que atribuo o grande sentido da vida. Afinal, que lógica teria a incansável luta do dia-a-dia se não tivéssemos os amigos para compartilharmos nossas emoções e angústias? Sozinho, tudo perde o sentido. Acreditem, eu sei e como sei.

Falar sobre minha família quando penso em amizade chega a ser redundante. Tive a felicidade de ser agraciado por parentes fabulosos, passionais, chorões, amigos. À minha família, ficam minhas homenagem e gratidão por compartilharmos os momentos inesquecíveis em que temos o prazer de estarmos juntos.

Entretanto, por mais claros e gritantes que sejam os laços que me unem à minha família originária - sim, porque ao longo do caminho esse grupo foi aumentanto, com a entrada dos irmãos dados pela vida - não posso deixar de falar dos meus pais e irmã (sobre quem já lhes contei aqui), esses sujeitos fabulosos de quem tenho o orgulho de me tornar cada vez mais próximo, ainda que a distância.

Hoje fui agraciado com um e-mail do meu velho pai me descrevendo como "seu maior amigo". Foram curtas e pequenas frases que li e reli por entre as lágrimas que me umedeciam a visão.

São eles, meu grande pai, minha amada, passional, linda e saudosa maezinha e minha irmã, os meus primeiros e grandes amigos. Um abrigo certo, morada aconchegante, conforto no colo sempre receptivo e saudoso. Cenas inesquecíveis de olhares tenros e cúmplices. Mãos de afagos imensamente desejados em silêncio. Abraços que transformam a pior tempestade em calmaria. Refúgio do filho ainda receoso do desconhecido.

No ano passado, há quase um ano, no dia em que comemoro - cada vez com menos intensidade - a minha chegada ao mundo, caminhava a passos lentos pela rua em direção à minha casa. Não me apressava. Andava vagarosamente e me perguntava porque assim o fazia. Concluía que não tinha motivos para me apressar. Na minha casa me aguardavam os móveis, as paredes e meus livros. Lá estava ela, a solidão, impávida e aviltante, ansiosa pela minha chegada, para comigo compartilhar das suas angústias mais medonhas.

Giro a chave na fechadura e aí, exatamente aí, tenho a feliz surpresa de que na minha casa aguardava-me a minha irmã, que fizera uma viagem de Campos dos Goytacazes ao Rio de Janeiro apenas para me confortar com sua presença. Sobre a mesa, bolo, doces, salgadinhos, refrigerante e a mais espontânea decoração de festa de criança. Sobre as cadeiras repousavam máscaras do filme infantil Shrek. Nos momentos que se seguiram, voltei a ser criança e compartilhei, com a minha irmã, a festa de nossa amizade.

Mas, como eu dizia, esse texto, que por ora já se alonga demasiadamente - tarefa hercúlea escrever sobre meus queridos em breves linhas - é dedicado não apenas a alguns, mas a todos meus queridos, amados e verdadeiros amigos-irmãos.

A data de hoje é apenas uma simbologia, pois, em verdade, todos os dias deveriam ser dedicados a esses anjos que dão sentido às nossas vidas. Gostaria, meus queridos amigos, que ao final deste e de todos os dias, pudessem se sentir por mim abraçados e beijados - sem a babaquice do preconceito de que amigos não se beijam fraternalmente - numa demonstração sincera da vitalidade e da importância de nossas fundamentais amizades.

Uma pena não serem os meus braços longos o suficiente para, de uma só vez, acolher próximo de mim esses irmãos que têm comigo compartilhado o sentido da vida. Como não posso, agora, dar-lhes o afago tão merecido, ficam minhas singelas palavras e lembrança como uma forma de dedicar-lhes o que há em mim de mais puro e sincero: o amor fraternal.

Ao Xereca (o grande e primeiríssimo irmão dado pela vida; aquele com quem posso não estar junto nos acontecimentos, mas com quem sempre estarei nas consequências); ao Danilo (querido inesquecível irmão e "vice", segundo dizem); ao Titi (velho guerreiro, pai de uma linda princesinha, amigo de todas as horas, porque "aos amigos a vida, aos inimigos..."); ao Ray (com quem sempre discordo de tudo, menos do amor fraterno recíproco); ao Kexinho (um pequeno, porém enorme homem na sua grandiosidade; um vencedor); ao Romulo Macedo (amigo-irmão que nos seus singelos atos demonstra seu brilho; aquele que afasta a solidão e traz luz ao mundo por vezes escurecido; quem revela sua importância até mesmo na sua ausência); ao André Perecmanis (irmão, companheiro, conselheiro, analista, exemplo de profissional, inspiração, professor, parceiro e amigo; um cara especial, com brilho próprio; alguém que não faz idéia de seus elevados talentos e qualidades); ao Bolinha (garoto novo, de uma bondade impressionante, sujeito do bem, de coração enorme e bundão largo, histriônico - segundo o André - e de sinceridade marcante); ao Ueré (de quem sempre recebo um sorriso sincero e um abraço confortante ao chegar em casa); à Lúcia (mulher de garra, coração e tempero fenomenais); ao Fabinho (que sempre estará ligado por laços tenros à vida da minha família); ao Bebezão (que fugiu à regra por não ter sido marcado pelas primeiras impressões e é dono de uma perseverança invejável); à Nati (linda pequenininha, de uma candura impressionante e que o passar dos dias me traz ainda mais deslumbramento); à Orestes (boêmia por vocação e de quem os percalços da vida não foram suficientes para afastar a amizade); ao Dudu Elegância (de quem a presença é tão requisitada e saudosa); ao Juju (o Baiano tipo baixo da profanação, de quem a vida nunca realmente me separou e a saudade massacra o coração); ao Tio Carlinhos (padrinho amado, que não se rende às armadilhas da vida; aquele para quem ligo nos apertos saudosos; sobrevivente dos ataques ao amor eterno; austero com coração de menino; "amigo mais certo das horas incertas"); aos meus pais (a quem as homenagens são sempre, sempre muito ínfimas diante da grandiosidade e infinitude de nosso amor); aos meus tios e primos (a quem não dirijo minhas emoções nominalmente por não caberem nessas linhas tamanha admiração); enfim, a todos vocês meus queridos amigos-irmãos, presentes imensuráveis que a vida me deu, o meu mais puro e sincero amor e a minha gratidão por existirem e se fazerem presentes em meu caminho.

Todos nós perseguimos objetivos de vida e buscamos, incessantemente, a vitória. Os dias são batalhas renováveis a que nos dispomos lutar todas as manhãs. As realizações pessoal e profissional são postas como um norte que procuramos seguir. E assim seguem nossos dias, nessa busca eterna pela conquista. E não deveria ser diferente. Mas, saibam vocês, meus queridos amigos, que se a qualquer momento meu caminho fosse pelo destino interrompido, eu teria em mim a certeza de já ter conquistado o que há de mais valioso: a amizade de vocês.

A todos, o meu "muito obrigado" por, de alguma forma marcante, fazerem parte da minha vida.

Até a próxima.

POLÍCIA DE MERDA!


Antes de lhes dizer o que pretendo, gostaria de iniciar essas linhas pedindo-lhes desculpas pela palavra chula que compõe o título deste texto.

Mas a situação que agora passo a lhes contar, meus queridos leitores, é lamentável e asquerosa. O que torna o cenário ainda mais catastrófico é a frequência com que fatos como esse têm ocorrido na minha tão mal tratada cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Na noite de ontem (conforme podem assistir no vídeo abaixo), um casal ia para casa, no subúrbio do Rio, quando percebeu que uma viatura da Polícia Militar (assim, sem negrito, pois esse nome só tem sido motivo de desonra) estava atrás do seu carro, com luzes acesas, como se pedisse passagem.


Apesar de ter sido aberto caminho para o automóvel policial, aqueles que deveriam ser os homens da lei permaneceram seguindo o casal e - pasmem! - resolveram disparar tiros de fuzil contra o seu carro!

Por uma generosa concessão da sorte, o homem que estava ao volante apenas teve um ferimento no braço, sem grandes riscos para sua saúde.

Mesmo após cometer essa barbárie, um dos policiais ainda abordou o casal como se estivesse lidando com um lixo humano, com uma espécie de tratamento que nem aos animais seria tolerável.

Quero deixar muito claro que não estou fazendo um julgamento antecipado dos milicianos. É verdade que essa é uma versão contada apenas pelo casal. Mas nenhuma outra história cabível nesse contexto permitiria que os policiais pudessem agir de uma forma tão truculenta e tirana!

Não sei o que dirá a polícia, mas que tipo de suspeita poderia gerar um casal dentro de um carro, na frente de uma viatura policial, a ponto de justificar um tiro disparo por trás, covardemente, como se fora uma tentativa fria e cruel de execução?

O que mais me preocupa é que esse não é um caso isolado. Quem não se lembra do caso do menino João Roberto, morto por disparos policiais quando estava dentro do carro junto de sua mãe?

Insisto que não quero fazer qualquer espécie de juízo afobado dos policiais. Mas é assustador ver a tranquilidade com que esses monstros, por muitas vezes, justificam suas ações sob a alegações de que os "suspeitos" estavam fugindo. E daí? Se um suposto criminoso estiver fugindo poderia a polícia simplesmente executá-lo? Teriam os milicianos o direito de matar quem apenas tenta fugir, sem oferecer qualquer resistência ou risco de morte aos agentes públicos?

Cada dia que passa, me parece que nossa polícia tem de ser totalmente renovada. Custo a acreditar que por mais policiais nas ruas, com essa política truculenta, possa favorecer de qualquer modo nossa população, que a todo momento é vítima, inclusive do poder público.

A filosofia e a orientação que nortearam os fatos lamentáveis ocorridos na noite de ontem, fazem parte, infelizmente, da mentalidade dos policiais fluminenses. Não sejamos ingênuos ao ponto de acreditarmos que uma mera troca no comando geral dos órgãos de polícia vai resolver o problema. Chego a duvidar que novos treinamentos modifiquem essa realidade. A situação é tão caótica, que talvez fosse preciso uma substituição quase geral nos quadros da segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Está difícil ver luz no fim do túnel.

Até a próxima.

ROTA COMANDO, O "FILME"


Quando criei esse blog e me propus a aqui escrever um pouco sobre cinema, o fiz tanto porque sou um adorador da sétima arte, quanto pelo fato de que gostaria de dividir com vocês, meus queridos leitores, emoções, impressões, sensações e opiniões que formei, sejam elas boas ou ruins.

Hoje faço um papel quase que de utilidade pública ao dedicar as linhas seguintes à critica do "filme" - pelo menos os produtores assim querem chamá-lo - Rota Comando. Segundo a própria produção, esse troço - que me causa asco chamar de filme - foi inspirado no livro Matar ou Morrer, de autoria do deputado estadual de São Paulo, Conte Lopes.

O negócio é tão ruim, mas tão absurdamente péssimo, que não sei por onde começar a descrevê-lo. Na verdade, acho que meu escasso conhecimento do vernáculo me impossibilita ter adjetivos suficientes para qualificá-lo.

Eu não li o livro, portanto não posso dizer-lhes o que seria pior, se o vídeo ou o texto escrito. Todavia, considerando-se o autor do folhoso, deve ser uma porcaria sem precedentes.

A "produção" paulista é claramente inspirada no sucesso que obteve o carioquíssimo Tropa de Elite, filme de altíssima qualidade, opinião forte e honestamente polêmico. Entretanto, como sói acontecer nas hipóteses em que a terra da garoa tenta copiar os pontos altos da cidade maravilhosa, o resultado é mais que lamentável.

Provavelmente devem estar se perguntando porque assisti ao filme se é tão ruim assim. Eu repondo: não assisti! Ao menos não assisti completamente. Confesso que fiquei curioso para saber como teria sido a abordagem da pseudo tropa de elite paulista e, então, tive acesso ao DVD.

Bastaram 2 minutos - no máximo! - para que eu tivesse a absoluta certeza de que se tratava de uma aberração cinematográfica. Depois disso, comecei a pular de trecho em trecho, observando meros 30 segundos a 1 minuto em cada pausa, apenas para ter certeza de que a minha primeira impressão não havia sido equivocada.

No sentido estrito do aspecto técnico do "filme", logo de cara se percebe que a imagem é horrorosa. O áudio é ridículo. A filmagem é toda feita com as câmeras bem próximas, fechadas nos "atores". Não se enganem dando uma chance à obra ao cogitarem que talvez fosse uma opção do "diretor", uma espécie de metalinguagem que tenha resolvido utilizar. Na verdade, isso se deve ao fato de que o filme não tem nenhuma locação que preste e os cenários são ridículos. Todas as cenas externas tiveram de ser curtas e filmadas de perto, tamanha a precariedade da produção.

Quanto à atuação do elenco (se é que assim pode ser chamado), também me faltam palavras e adjetivos de baixo calão para descrevê-la. Não há qualquer interpretação, nenhuma sensibilidade e as personagens estão absolutamente mal representadas. O grande destaque é a participação do autor do livro, o deputado Conte Lopes. Quando ele abre a boca para falar parece ler rapidamente um texto posto à sua frente, com o olhar fixo e imutável em um papel. A fluência se equivale à de uma criança tentando ler nos seus primeiros dias de alfabetização. Lamentável e indescritível.

Em resultado diametralmente oposto ao Tropa de Elite, o "filme" não deixa qualquer elemento que incite discussões acerca da suposta realidade social retratada nas imagens e não vale a pena qualquer debate minimamente sério sobre a inclinação facista da obra. O troço é um lixo e ponto final. Pode ser um dejeto facista, mas sem qualquer credibilidade.

A grande pergunta que a produção nos faz é a seguinte: como pode, após o resultado dessa bosta, o Elias Junior ter a cara-de-pau de se autodenominar diretor e produtor de cinema?! Faço idéia da desonra que deve ser para Walter Salles, Fernando Meirelles, José Padilha, Nelson Pereira dos Santos, Sérgio Rezende e tantos outros profissionais de cinema de qualidades infindas terem como "colega" uma aberração dessa envergadura.

Enfim, não assistam!

Até a próxima.

O ÓBVIO ULULANTE


No final da noite de ontem, quando saltava de canal em canal procurando algo de interessante na TV, me deparei com o delegado federal - isso deve ser um motivo de desonra para os demais colegas da classe - Protógenes Queirós sendo entrevistado no programa É Notícia, da Rede TV!.

Crispado, enfrentei um duelo existencial ao por os olhos naquela figura repugnante. Me perguntava: mudar ou não mudar de canal? O fato é que tenho tanta ojeriza pelo falso xerife que tenho me privado de testemunhar os lamentáveis atos e as declarações do sujeito.

Bastou ver seu semblante de pseudo homem probo que, imediatamente, me lembrei de uma matéria que li, dia desses, em um grande jornal carioca que me esforço para não escrever o nome. Dizia o veículo midiático que Protógenes fazia acordo político para escolher o partido pelo qual seria lançado candidato a deputado federal.

Mais uma vez minha memória me convidou para uma viagem a um passado recente. Lembrei-me que, assim que começaram as abusivas e cinematográficas prisões da operação Satiagraha, com todos os holofotes apontados para o delegado-justiceiro, profetizei: "Esse cara tá querendo aparecer. Não respeita nada nem ninguém. Se julga acima do bem e do mal. Acha que tá acima da lei e faz qualquer coisa pra fazer dessa operação um sucesso. Aposto quanto quiserem que, dentro de pouco tempo, esse sujeito vai querer se candidatar a alguma coisa. Provavelmente vai querer ser deputado federal, uma coisa assim. Vai se juntar aos seus no Congresso Nacional." Por mais visionário que parecesse eu dizia apenas o óbvio. Era o óbvio ululante.

Já dizia o saudoso e admirável Nelson Rodrigues (gênio, gênio, gênio!) que "só os profetas enxergam o óbvio". Em um país tão cego como esse, em que o povo se deslumbra diante dos atos mais opressivos e macabros do poder público, não se pode negar que, em certos momentos, anunciar o óbvio parece uma visão do futuro.

O mais interessante é que o pseudo paladino da justiça já fala com tom de salvador da pátria. Ontem dizia ele, em rede nacional, que hoje há dois Brasis. O Brasil de antes da Satiagraha e o Brasil de depois da operação. Ia além. Dizia que o povo brasileiro já não aceita mais ser enganado, não se renderia aos supostos criminosos poderosos que querem dominar o país.

O mais curioso é que, sem nenhuma modéstia, o dito cujo falava como se atribuísse essa "revolução social" a si próprio. Mais um pouco e ele teria soltado aquela clássica: "nunca antes na história desse país...".

Agora vejam, o sujeito passa por cima das leis que jurou proteger, desrespeita os investigados submetendo-os ao mais intenso escárnio público, divulga informações sigilosas - sabe-se lá a troco de que - para poucos veículos de imprensa se esbaldarem com supostos "furos jornalísticos", enfim, faz o que bem entende orientado apenas por seus próprios interesses e agora posa para as câmeras como se fosse o espelho da probidade.

Fico torcendo para que, ao menos dessa vez, o povo desse país consiga ver o óbvio. O pior é que, em casos como esse, a esperança acaba se rendendo à realidade. Mas não, dessa vez vou me esforçar. Não quero ver o óbvio! Vou apenas torcer. Torcer para que os eleitores não vacilem mais uma vez diante das urnas.

Já imaginaram uma Câmara com Jair Bolsonaro, Marina Maggessi, Protógenes Queirós e companhia? Nesse ritmo, daqui a pouco vai ser crime pensar. Sim, porque se pensarmos...

Até a próxima.