DECISÕES


Estava vasculhando alguns documentos antigos arquivados no meu computador quando me deparei com um texto escrito por mim há algum tempo atrás. Lê-lo novamente me surpreendeu, haja vista que já não me lembrava de tê-lo escrito.

Passar os olhos sobre aquelas linhas trouxe-me de volta algumas duras sensações que experimentava quando o redigi.

Certa vez, li que para avaliarmos se algum texto é realmente bom devemos escrevê-lo e guardá-lo na gaveta por alguns anos. Se após o transcurso do inexorável tempo ainda acreditarmos que o escrito é interessante, aí sim, teremos mais respaldo, independência e certeza de que fizemos um bom trabalho.

Lembrei dessa 'teoria' ao reler meu próprio texto. Confesso que não me enchi de orgulho da 'obra' produzida. Acho que merecia algumas importantes modificações para que sua leitura fosse mais agradável e revelasse mais maturidade literária de seu autor (no caso, eu mesmo).

Entretanto, acho que a pureza e a sinceridade das emoções presentes naquelas linhas fazem que seja válido publicar o tal texto aqui nesta TRIBUNA. Decidi deixá-lo na íntegra, na forma que foi escrito, sem nenhuma alteração, com o fim de que possa expressar melhor o que sentia à época.

Talvez daqui a algum tempo eu faça as modificações necessárias e melhore sua redação. Enquanto isso, fiquem com minhas "DECISÕES", abaixo transcritas:

"Tomar decisões cruciais para a própria vida é como se equilibrar sobre uma tênue linha entre o duvidoso e o errado. O certo quase nunca é desenhado em grossos contornos para que possamos, de início, visualizar que caminho deve ser seguido.

Em regra, só concluímos se nos decidimos corretamente após passado algum tempo da decisão tomada. Nesse momento, temos sempre alguma sorte de ensinamento. Aula que preferiria não ter de assistir. Conhecimento que traz temores sobre seu teor.

Se percebermos que a decisão tomada foi a correta, há um sentimento de acerto, de objetivo alcançado, de sucesso. Se errada for, ao contrário, temos, ao menos, uma leve sensação de derrota, mas a melhor sabedoria nos ensina que o mais importante é fazer desse erro um grande aprendizado.

A teoria sobre nos decidirmos parece estar completamente correta. Mas, ainda assim, há um medo enorme a cada momento que uma decisão crucial repousa desafiante sobre os nossos caminhos.

Desvincular-se de algo ou de alguém é infinitamente mais difícil do que vincular-se, independente do tamanho do esforço feito para que o vínculo se realizasse.

Ver um brilho que traduz um misto de tristeza e saudosismo no olhar de quem é deixado nos submete a sentimentos paradoxais e diametralmente opostos: nos invade uma espécie de orgulho por obtermos um reconhecimento positivo, e, ao mesmo tempo, somos acometidos por sensações pesarosas em razão de havermos deixado para trás alguém que sinceramente nos valoriza.

E como é difícil ter o devido valor para alguém nestes tempos modernos tão efêmeros!

Ter as rédeas das nossas próprias vidas é a tradução da liberdade mais desejada por nós e, ao mesmo tempo, uma das vicissitudes que mais nos assusta. Por vezes tendemos a desejar que alguém decida por nós, que os resultados sejam postos nas nossas vidas. Assim, se forem exitosos, comemoramos do mesmo jeito, mas, se, de outro modo, forem lamentáveis, carregamos um peso a menos por entendermos que não nos foi dada a possibilidade de decidir.

Passada a angústia sobre o que fazer, só nos resta torcer... torcer para que a decisão tomada seja a mais correta, honesta e saudável. Torcer para que, diante do erro, ainda possamos levantar a cabeça, aprender as lições ensinadas e ainda termos tempo de consertar o que haja saído errado. Torcer para que nas próximas vezes os resultados sejam sempre melhores.

Torcer para que nosso caráter não reflita nossas decisões, mas para que nossas futuras decisões sejam reflexos do nosso caráter. Torcer para que aqueles que ficaram com um saudoso brilho de sinceridade e bem querer no olhar nos fitem sempre com olhos de regozijo e de felicidade em ver-nos de novo."

Até a próxima.