DECLARAÇÃO DE AMOR


Por alguns instantes pensei que o amor fosse proporcional às saudades. Saudades enormes, amor enorme.

Mas não. Nem mesmo essa imensa, latente e dolorosa saudade chega perto do meu incomensurável amor.

Sempre gostei dos conceitos. Mas por eles me sinto traído. Por definição, supunha que o que é incomensurável ou infindo não pode crescer, pois que não comporta medidas.

Mas meu amor rompe barreiras, destrói dogmas e surpreende em sua simplicidade singela.

O amor que já se mostra sem medidas consegue, paradoxalmente, crescer mais a cada dia. Rompe com a filosofia kantiana e prova, talvez, que o infinito só assim o é em razão da nossa incapacidade de medi-lo.

Hoje acredito que até o que não tem fim pode ficar ainda maior. Essa minha incongruência é a rainha da minha poesia e até os pseudos-poetas, como eu, podem romper com a racionalidade com direito e propriedade.

Por isso acho que o que não tem fim é aquilo que é extenso para além do compreensível, mas nada impede fique ainda maior.

É assim o meu amor; é dessa forma a inspiração que me irradia o ser e me põe a desenhar palavras de sentido transcendental.

O amor que ontem era infindo, hoje tem uma infinitude ainda maior. E se os dogmas ou a filosofia do conhecimento unanimemente me acham desarrazoado, pior para eles. Já dizia o velho mestre que a unanimidade é hedionda.

O tempo parece ser a medida dos não afortunados. Não preciso dele. A menor fração do instante se torna eterna e inesquecível na constância do meu amor sublime.

A verdade é quem nem mesmo os pensamentos sobrepostos ou a tentativa ineficaz de verbalizar os meus sentimentos são capazes de traduzir a magnitude de uma simples palavra carregada de magia e altivez: amor.

O amor que não se cansa de crescer e que amanhã fará dessas palavras mero esboço da sua plenitude.

Até a próxima.

O ÉBRIO APAIXONADO


Era a septuagésima sétima vez que Eriberto ligava para sua amada e escutava uma gélida voz anunciando que caíra, novamente, na caixa postal. A cada ligação perdida, dava mais um gole nos diversos copos de chope que haviam passado por sua mesa, estrategicamente colocada ao fundo de um bar próximo de sua casa. Já não aguentava tanto desprestígio e, depois de outra bebericada em sua bebida, decidiu partir em direção ao apartamento de Roselita.


De frente para o edifício, um prédio sem portaria, com interfone em que um teclado exibia o número de cada um dos apartamentos, Eriberto percebeu que não fazia ideia de qual deveria tocar.


Encorajado pelo álcool que roubava-lhe os sentidos e amparado na sorte, aventurou-se no método da tentativa e erro para tentar fazer contato com a mulher que o transtornava.


Por volta de três e meia da manhã, tocou o interfone de vários apartamentos. Da rua silenciosa, podia-se ouvir o som que vinha de dentro daquele pequeno prédio a cada vez que um aparelho estrilhava.


Das frestas de sua janela, Joana observava a via crucis do pobre diabo apaixonado, enquanto aguardava ansiosa por uma oportunidade de seu interfone também soar.


Sem qualquer discernimento ou capacidade de se recordar quais os números já havia chamado, Eriberto prosseguia com sua tentativas inconvenientes, despertando os moradores daquele pequeno prédio madrugada adentro.


Entre reclamações e impropérios que ouvia como forma de protesto por seu atrevimento, escutou uma acalentadora voz feminina atender a um de seus chamados.


— Alô, Roselita? É você?


— Não, aqui quem fala é a Joana. A Roselita não mora aqui.


— Não? Desculpa, mas você saberia me dizer qual é o apartamento dela? — indagou, atrapalhado.


— Faz o seguinte, sobe aqui. Vem até meu apartamento. Toma uma água e aí conversamos sobre isso, pode ser?


Sem perspectiva de qualquer outra alternativa mais interessante, Eriberto atendeu à sugestão da voz que emanava daquele aparelho inanimado.


Ao chegar no apartamento de Joana, surpreendeu-se com a receptividade com que ela o esperava. Estacada no meio de sua sala, Joana vestia apenas um minúsculo baby doll completamente transparente. Por debaixo da roupa provocante, podia-se ver os contornos de um corpo que mais se assemelhava a uma visão do paraíso.


Joana era uma tentação em forma de mulher. Dona de um corpo moreno bronzeadíssimo, exibia em seu colo sensuais marcas do biquíni que usava para tomar sol. Os seios arrebitados, do tamanho de peras maduras, pareciam aptos a furar o fino tecido de suas vestes noturnas. Acima do sexo, liso e nu, podia-se perceber uma pequena tatuagem com a inscrição “Love” dentro de um coração vermelho.


Decidida, Joana pediu ao ébrio apaixonado que se aproximasse mais e, ao seu ouvido, sussurrando, disse-lhe que estava encantada com a sua determinação e sensibilidade. Contava-lhe que sempre sonhou com um homem que fizesse qualquer coisa para tê-la, mesmo que para isso precisasse acordar um prédio, uma rua, uma cidade inteira. Sem pestanejar, fez a proposta que deixaria Eriberto ainda mais excitado:


— Vem aqui, vem? Vem fazer comigo tudo que você queria fazer a noite inteira com a Roselita. Eu deixo, vem? Aliás, eu quero. Quero muito você. Sou todinha sua. — provocava Joana, já sentada em sua cama, com o corpo seminu.


— Tem certeza? Posso mesmo? Não tá brincando comigo não, né? — retrucou, incrédulo, Eriberto.


— Pode não, deve! Vem! Faz comigo tudo o que você queria fazer com a Roselita, faz?


Com uma habilidade de poucos, Eriberto desvencilhou-se dos calçados com dois chutes no ar. Arrancou a camisa com um golpe brusco e livrou-se de suas calças apressadamente. Como um animal sedento, correu em direção à Joana e lançou-se ao seu lado na cama. Deitado, puxou-a para os seus braços, abraçou-a com fervor, procurou uma confortável posição em forma de conchinha e dormiu o sono dos anjos.


Até a próxima.

APLAUSOS AMARGOS


Toda a sua vida havia sido dedicada ao teatro. Desde novo já dizia para os pais que queria ser ator. Quando no final da sua adolescência, matriculou-se na mesma escola teatral em que, após a conclusão do seu curso, viria a ser professor.

Fez faculdade de artes cênicas e se formou em um belo curso de direção teatral na conceituada Universidade Federal do Rio de Janeiro. Era dono de um currículo invejável e sempre provocava suspiro nos seus alunos no primeiro dia de aula, quando apresentava-lhes suas qualificações. A não ser por nunca ter trabalhado em nenhuma peça, teria a carreira dos sonhos de todo novo estudante de teatro.

Durante a as suas aulas, só havia uma pergunta que lhe desconsertava. Era quando, curioso, algum jovem estudante indagava-lhe sobre qual havia sido sua última peça. Ruborizado, tentava explicar que dedicava sua vida a formar novos atores, que seu maior prazer era ver seus pupilos em maestrais apresentações pelos palcos Brasil afora. Era uma justificativa bonita, um gesto altruísta, mas, na verdade, ninguém conseguia compreender porque alguém tão preparado nunca havia pisado, seja como ator, autor ou diretor, em um palco.

Certo dia, o rumo da vida de Adolfo começou a mudar. Foi em uma segunda feira, às nove da manhã, quando se apresentava para uma nova turma de interpretação teatral, que não conseguiu deixar de se hipnotizar pela presença de Anita. Enquanto anunciava, orgulhoso, suas conquistas curriculares, percebeu que aquela jovem ruiva parecia devorar-lhe com os olhos. Era uma mulher estonteante. Com traços de menina, exibia um lindo decote que valorizava seus seios fartos, firmes e provocantes. Por baixo de sua blusa, os mamilos rígidos anunciavam que não era adepta do sutien. Adolfo salivava. Ficava perdido em meio à tanta exuberância.

Tentava repelir seus pensamentos, mas a verdade é que não dava para negar que Anita estava dedicada a lhe provocar. Os dias e as aulas se sucediam e quanto mais a bela jovem percebia as reações embaralhadas de Adolfo, mais parecia querer tirar-lhe do sério.

Quando os olhares de professor e aluna se cruzavam, Anita, com a boca entreaberta, passava leve e vagarosamente a língua por toda a extensão do seu lábio superior. Por vezes era ainda mais cruel. Mordiscava o dedo polegar de sua mão direita e o deixava repousado sobre seu lábio, fazendo movimentos circulares com a língua em volta da falangeta, já completamente umedecida.

Um belo dia, ao final de uma aula, após todos os alunos terem saído da sala, Anita dirigiu-se vagarosamente a Adolfo. Enquanto notava a aproximação de sua aluna, o jovem professor tremia nas entranhas. Percebia o andar cadenciado, a rítmica provocante, as curvas exuberantes e o olhar fatal que Anita jogava sobre ele.

— Professor, eu fico até meio sem jeito de te pedir isso... não sei nem como dizer. — falou Anita, com os olhos fincados em Adolfo e a língua a umedecer os lábios.

— Que isso, Anita?! Pode me dizer qualquer coisa. Não há porque existir timidez ou qualquer protocolo entre nós. — respondeu, atrapalhado, Adolfo, percebendo que deixara escapar um prenúncio de seus desejos.

— Ah é, professor? Que bom saber disso! Assim eu fico muito mais a vontade... — dizia Anita em tom de provocação. Aproximou-se mais um pouco e, junto ao ouvido de Adolfo, sussurrou: — meu sonho era ver você escrever e dirigir uma peça em que a protagonista fosse inspirada em mim. Ai — dizia, suspirando e passando os dedos pelo colo desnudado — eu daria tudo, faria tudinho pra ter um presente desse... tudinho mesmo... — finalizou a formosa aluna em sussurros que se confundiam com gemidos contidos ao pé do ouvido de Adolfo.

Os dias que se sucederam foram de intenso trabalho na elaboração de uma peça com inspiração notadamente rodriguiana. Enquanto escrevia o enredo de sua história, Adolfo perdia-se na sua imaginação: um misto de fantasias sexuais por Anita e uma ansiedade receosa dos desdobramentos de sua peça. Todas as noites rezava para que seu espetáculo fosse um sucesso. Seria o primeiro passo para encontrar morada no paradisíaco corpo da ruiva de seus sonhos.

No dia da estréia Adolfo era uma pilha de nervos. Havia trabalhado incessantemente durante todos os dias ao longo de um ano e meio. Diuturnamente o desejo nutrido por Anita lubrificava suas engrenagens e dava-lhe ânimo para prosseguir em sua empreitada. Nada podia dar errado naquele momento. Havia chegado a hora. Adolfo estava certo de que se sua peça fizesse sucesso finalmente Anita seria sua, só sua. E como aquele desejo lhe fazia bem! Não havia nada que almejava mais do que ter sua jovem e bela aluna repousando em suas braços.

O teatro não parava de encher. Uma hora antes do início do espetáculo todos lugares já estavam ocupados. O público estava ávido pela estreia daquele teatrólogo tão qualificado.

A peça foi encenada exatamente do jeito que fora imaginada por seu autor e diretor. Tudo transcorreu perfeitamente bem. Da coxia, Adolfo observava o público, silencioso, após as cortinas se fecharem. A expectativa o fazia suar frio, ansioso por saber como seria a recepção de sua obra. Segundos se passaram em que a quietude do silêncio revelava-se ensurdecedora para Adolfo. De repente, como uma espécie de gesto de gratidão pela inspiração rodriguiana, a plateia uniu-se em um efusivo aplauso de pé: — O autor, o autor! — pediam os espectadores maravilhados.

Havia sido a noite dos sonhos para aquele amante do teatro. Mas ainda lhe faltava o mais essencial: Anita. Corria os olhos pela pelo público e não conseguia destacar sua musa daquele mosaico de pessoas sorridentes. Sorumbático, recolhido à coxia, perdido em pensamentos saudosistas, foi surpreendido por sua assistente, que anunciava a chegava de sua aluna mais ilustre, pedindo para falar-lhe reservadamente.

Aturdido, Adolfo saltou em direção à sua musa. Com um sorriso enigmático e mordiscando o lábio inferior, Anita abraçou o professor, deu-lhe um beijo vagaroso na face direita e, suspirando em seu ouvido, disse-lhe baixinho:

—Parabéns pelo sucesso professor! E muito obrigada. Você é um anjo. Quando meu ex-marido, que é diretor de teatro, soube do sucesso que ia fazer uma peça que o senhor escreveu pra mim, veio correndo me pedir pra voltar. Não sei o que seria de mim sem o senhor. Vou pensar em você todos os dias que for deitar ao lado dele. Nunca vou te esquecer...

Depois de mais receber mais um beijo no rosto, o pobre diabo viu aquela silhueta encantadora esvair-se na penumbra das estreitas passagens dos bastidores do palco.

Enrijecido, excitado, paralisado e incrédulo, Adolfo vivenciava o último ato do seu maior sonho e o tema de seu próximo espetáculo. Como seu mestre, amargava o sabor da vida como ela é.

Até a próxima.

ARLETE, A BEATA DEFLORADA


Desde quando a mãe havia se divorciado de seu pai, Arlete estava inconformada. Como religiosa fervorosa, não admitia a hipótese da separação. Acreditava, pia e inocentemente, que os casamentos deveriam ser para sempre. Muito mais que uma união de corpos, seriam uma fusão de almas. "O que Deus uniu o homem não separa", pensava.

A distância do pai e a proximidade diuturna do padrasto fizeram com que ela mergulhasse cada vez mais na sua beatice já destacada. Vivia para a igreja, suas orações e para a dedicação a uma vida santa.

Seu maior conflito existencial era não suportar Jonas, o homem com quem sua mãe se casara. Detestava aquele homem. Toda vez que o via sentia-se na obrigação de se debruçar em orações, tamanho o ódio dentro dela despertado, tal qual um vulcão adormecido que acaba de entrar em erupção.

Embora travasse uma batalha consigo mesma na tentativa de "aprender" a amar fraternalmente Jonas, via-se sempre vencida por seus sentimentos mais cabulosos. O remorso era visceral. Chorava por ser dona de uma paixão tão maledicente. Paradoxalmente, tentava, de maneira involuntária, arrefecer sua culpa lembrando dos vícios e descalabros do padrasto.

As impressões da jovem eram, provavelmente, acertadas. Jonas chegava em casa todos os dias bêbado. Por vezes não sabia seu nome ou onde morava. Tinha de ser amparado por amigos de copo e carregado até sua residência. Ao chegar ao seu lar, sempre importunava a religiosa e bela enteada:

– Esse negócio de igreja, de Bíblia... a mim você não engana! Deve é estar dando pro pastor. Quer dizer, pro padre, né? Pro padre. Desculpe, eu tinha até esquecido que seu negócio é a batina. – dizia, jocosa e desrespeitosamente, Jonas.

Arlete não suportava mais aquela situação. Certa vez, inconformada com tanta humilhação, resolveu buscar socorro maternal, relatando a Esmeralda todos os absurdos a que o padrasto frequentemente a submetia.

A reação da mãe foi inesperada. Desferiu um tapa na face esquerda de Arlete e determinou, incisivamente, que nunca mais maldissesse seu marido daquela forma.

– Eu até entendo que você sofra com a minha separação do seu pai. Agora, inventar um absurdo, uma maldade dessa do Jonas, que tanto te ama, eu não vou tolerar! Não repita isso, nunca mais, entendeu bem?!

Sôfrega e desolada com o descaso e a falta de confiança de sua mãe, Arlete trancou-se no seu mundo. Só trajava vestidos negros, com véus igualmente escuros cobrindo a fronte. Agarrada a uma Bíblia, só saía de casa para suas orações e missas na igreja.

Certo dia, acreditando estar só, foi menos prudente e começou a trocar suas roupas com a porta do quarto entreaberta. Jonas, que acabara de chegar silenciosamente, não acreditava no que via. Despida de suas vestas negras, Arlete era um pecado em forma de mulher. Os cabelos ruivos deitavam-se sobre suas costas à mesma altura dos seios arrebitados como peras maduras. De perfil, revelava uma silhueta ainda mais provocante. O padrasto salivava ao observar as curvas que habitavam um aquele corpo jovem, intacto, a espera de ser deflorado. Os mamilos arrepiados e rosados apontando, obliquamente, para os céus, os olhos verdes, a bexiga nua e os glúteos firmes tiraram Jonas do sério.

Fora de si, abriu a porta com um safanão e se jogou sobre a enteada. Sem forças para se desvencilhar daquele homem musculoso, Arlete sentiu um membro rijo e pulsante invadir seu corpo, retirando-lhe a inocência tão cultivada.

Os dias que se passaram foram de lamentações. A jovem beata não conseguia sair de casa nem mesmo para ir à igreja. Tinha medo de contar o ocorrido para sua mãe e, novamente, ser esbofeteada. Já passara por muitos constrangimentos. Não precisava de mais esse.

Quando pensava no padrasto, sentia náuseas, nojo, enjôo e ódio. Também era tomada por um furor inexplicável, causado pelas memórias do dia em que fora deflorada. Ao mesmo tempo em que odiava, percebia seu corpo esquentar, seus mamilos se enrijecerem e uma explosão de umidade alagar seu sexo.

Todos os dias, às três da tarde, olhava com os olhos marejados a porta do seu quarto, sabendo que, em instantes, ali entraria Jonas, disposto a submetê-la aos seus desejos.

Certa vez, inesperadamente Esmeralda chegou à casa e se deparou com Jonas sobre sua filha. Transtornada, muniu-se de uma vassoura e desferiu vários golpes sobre a cabeça do marido, que caiu tonto. Aos socos e pontapés, pôs o homem seminu para fora de casa, determinando-lhe que nunca mais ali voltasse ou tocasse em sua filha.

Abraçada à filha, Esmeralda chorava e pedia seu perdão por nela não ter acreditado. Arlete, inexpressiva, pediu que a mãe a deixasse sozinha.

Quinze minutos depois, quando Jonas sentava em um bar para pedir a primeira cerveja e afogar as mágoas do que acabara de acontecer, seu celular estrilhou.

– Amanhã minha mãe vai ficar em casa, mas no dia seguinte, às três, vou estar sozinha, no quarto te esperando.

Era Arlete.

Até a próxima.

TEOBALDO, LURDINHA, LEÔNCIO E O BBB


Leôncio não perdia um só dia de seu programa favorito, o Big Brother Brasil 10. Onde quer que estivesse parava tudo só para ir para a frente da TV assistir às tramas clichês daqueles indivíduos confinados em uma casa monitorada 24 horas por dia.

Até mesmo quando estava no hospital em que era médico plantonista, Leôncio pedia aos seus amigos que o "cobrissem" para que ele pudesse dispor do tempo necessário ao seu entretenimento sagrado em frente à telinha.

Quando estava em casa, o fanático telespectador não desviava a sua atenção nem mesmo quando sua esposa, a Lurdinha, uma bela ninfeta sensual com atributos inenarráveis, tentava provocá-lo vestida em trajes ínfimos.

— Já te falei pra não me atrapalhar nessa hora! Não tá vendo que tô assistindo o BBB? Olha lá, olha lá! O babaca do Dourado tá discutindo com o Dicesar! — bradou o marido inconformado com os desdobramentos da trama televisiva.

Lurdinha já não aguentava mais a falta de atenção do marido. Como se não bastasse passar a maior parte do tempo distante, nos plantões que o consumiam, quando estava em casa Teobaldo só prestava para assistir ao seu reality show e, depois, com ares de exausto, corria para os braços de Morfeu.

A carência, que aumentava a cada dia, fazia com que Lurdinha pensasse ainda mais em Teobaldo, o homem que deixava sua respiração ofegante mesmo quando passava por breves segundos em sua mente.

Em uma das tantas noites em que Leôncio se preparava para ver o Big Brother, Lurdinha ligou para Teobaldo e lhe disse rapidamente:

— Passe aqui em casa na hora que for começar o BBB, entendeu? Não faça perguntas! Apenas me espere do outro lado da rua e te explico tudo quando nos encontrarmos.

Teobaldo mal podia controlar sua excitação. Afinal, fazia algum tempo que não parava de pensar na Lurdinha e em seus loucos desejos de amor. Estava extasiado!

— Deve estar morrendo de saudades de mim! Quis bancar a durona, falou que não queria mais enganar o marido, que ele tava desconfiando, mas não se aguentou. Sabia que ela iria acabar me procurando. — pensava, arrebatado, Teobaldo.

No dia seguinte, lá estava o louco amante a espera de sua bela ninfeta. Ao se encontrarem, Lurdinha lhe explicou que o marido esquecia do mundo quando via o Big Brother e que apesar do programa durar pouco tempo, eles podiam aproveitar pra se ver naqueles momentos.

Teobaldo tentou argumentar. Disse que só passaria por lá nas edições mais longas do show televisivo. Que era muito pouco tempo, etc, etc. Mas, no fundo, a ideia lhe fazia bem. Afinal, era mais uma chance de sentir o cheiro, o gosto e a textura daquela ninfa enlouquecedora.

Algumas noites se passaram e os encontros se repetiam. Lurdinha já começava a ficar a ponto de explodir com aquela situação. Quando se encontrava com o amado tinha sensações indescritíveis, sentia cada milímetro do seu corpo se arrepiar. Ficava em um estado em que o mais leve sopro do vento já parecia tocar e despertar uma zona erógena do seu corpo. Chegar em casa, no entanto, era uma decepção. Encontrava Leôncio, pronto para dormir com seu pijama de bolinhas, tagarelando o tempo todo sobre o que acabara de assistir na TV.

Um dia, ao retornar ao lar, Lurdinha teve uma surpresa. Leôncio estava inquieto, ansioso pela chegada da esposa. Ao se deparar com ela logo indagou:

— Onde esteve?! Estou esperando por você há exatos cinco minutos e quarenta segundos!

— Estava levando a cadelinha pra passear, Léo. — respondeu, sem jeito, Lurdinha.

— Tudo bem, deixa isso pra lá. Hoje você vai ver só! Estou com a corda toda! — bradava Leôncio, orgulhoso, esfragando suas mãos uma na outra, como se prestes a devorar seu prato predileto.

— Vá lá preparar a minha gemada, meu bem. Do jeito que você sabe que eu gosto, porque hoje a noite vai ter!

Lurdinha tentou se animar com a novidade do marido. No fundo, queria poder estar ao lado de Teobaldo. Mas sabia que não era possível. Como se espantasse um pensamento ruim, a bela ninfeta sacudiu a cabeça e decidiu se entregar de corpo e alma ao esposo. Chegara a hora de extravasar todo o desejo guardado naquele belo corpo de curvas estonteantes. Estava pronta para ter uma noite de amor única com o homem com quem se casara.

Já no quarto, após beber efusivamente sua vitamina de ovos de codorna, Leôncio tratou de tirar as pantufas com rapidez e habilidade e se jogar forazmente sobre o corpo seminú de sua jovem mulher.

Sete minutos depois Leôncio respirava ofegante, tentando recuperar o fôlego. Com um semblante indisfarçavelmente orgulhoso, olhou para Lurdinha e indagou:

— Pode assumir, hoje eu estava demais, não estava? Não se acostume porque não é sempre que posso te dar uma noite como essa!

— Ah, tá. Pode deixar, sei como é, meu bem. — respondeu, inexpressiva e desolada.

Como se voltasse à realidade em um passe de mágicas, Lurdinha virou para o lado e, sem querer, voltou a pensar em Teobaldo:

— Ah, como seria bom se o Big Brother durasse muito, muito mais tempo...

Até a próxima.

ELEGÂNCIA PRESIDENCIAL


Hoje peço licença a vocês, meus queridos leitores, para fazer um breve comentário sobre uma imagem que me chamou a atenção ao abrir os principais jornais do dia.

Sei que tenho sido desleixado com todos que me dão o enorme prazer de ler esta TRIBUNA por não atualizá-la da forma que se espera. Mas aproveito também este ensejo para dizer-lhes que muito em breve voltarei a postar minhas crônicas aqui.

Voltando, contudo, ao assunto que me motivou a escrever este post, queria dividir com vocês uma impressão inconfundível que tive a respeito do principal representante da nossa República.

Eu tenho certeza absoluta que nosso "querido" presidente tem inúmeras, enormes, incontáveis qualidades tão magnânimas quanto indescritíveis. Mas a que mais chama a atenção, a que mais me deixa estupefato, a que mais se destaca é, sem dúvida, a sua elegância.

Vejam só esta foto abaixo e tirem suas conclusões. Observem como esta imagem vale mais que mil palavras.


Até a próxima.

POEMA DE JOSÉ LUIS PEIXOTO


Há poucos instantes assistia a uma interessantíssima entrevista com o escritor português José Luis Peixoto. Figura aparentemente excêntrica, rompe com os tradicionais estereótipos que normalmente habitam as imaginações quando se pensa na figura de um escritor.

Na mesma proporção de sua excentricidade é também visível a sua sensibilidade e a forma simples, porém belíssima, de fazer poemas absolutamente maravilhosos.

Eu não consegui deixar de compartilhar com vocês, meus queridos leitores, o texto que a seguir transcrevo. Impressionou-me a sutileza e a genialidade com que, de forma marcante, o literato fala do amor da família. Identifiquei-me com o poema, que não tem título e foi extraído da obra "A criança em ruínas".

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:

o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs

e eu. depois, a minha irmã mais velha

casou-se. depois, a minha irmã mais nova

casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,

na hora de pôr a mesa, somos cinco,

menos a minha irmã mais velha que está

na casa dela, menos a minha irmã mais

nova que está na casa dela, menos o meu

pai, menos a minha mãe viuva. cada um

deles é um lugar vazio nesta mesa onde

como sozinho. mas irão estar sempre aqui.

na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.

enquanto um de nós estiver vivo, seremos

sempre cinco.


Até a próxima.