DE SAMPA


Começou hoje, aqui em São Paulo, o 15º Seminário Internacional do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), evento que se estende até esta sexta-feira, dia 28 de agosto.

Devo confessar que, apesar de ser loucamente apaixonado pela minha amada, bela e maravilhosa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, sou tomado por um enorme e (in) explicável prazer toda vez que visito a terra da garoa (essas oportunidades não têm sido escassas). Aliás, por aqui garoou o dia inteiro e não há sinais de que o tempo vá mudar. São Paulo está, tipicamente, São Paulo. Um brinde para quem quer experimentar alguns dias com clima um pouco mais frio, elegante e diferente do calor que não se divorcia - nem abaixo de súplicas - da cidade maravilhosa (e quente).

Cheguei logo no início da manhã e, assim que pus os pés na terra dos "erres" puxados e dos "ãos" charmosamente anasalados, iniciei uma empreeitada reflexiva sobre como aproveitar ao máximo meus dias - que serão absolutamente cheios - conciliando as impagáveis lições ministradas no seminário com a invejável vida cultural da megalópole brasileira.

Não me comportarei aqui como a maior parte dos cariocas: criticando massivamente os problemas da capital paulista. Esses são inúmeros, públicos e notórios, de modo que qualquer descrição ou crítica seria redundante, por mais massacrante que fosse.

Pretendo, ao contrário, nos próximos curtos dias em que desfrutarei da hospitalidade paulistana, contar-lhes minhas boas impressões sobre o que há para ser desfrutado no lar dos bandeirantes.

Hoje, devido ao enorme cansaço que me arrebata após quase 36 horas no ar, ficarei por aqui. De qualquer sorte, as minhas maiores homenagens já são devidas à cidade que abriga a maior e melhor entidade dedicada ao estudo das ciências criminais do Brasil, o IBCCRIM.

É impressionante o manancial de conhecimento que emerge dos diletos membros, associados e colaboradores do instituto. Já havia experimentado essa maravilhosa sensação anual de me inebriar no saber oferecido pela entidade. Uma pena não termos no Rio de Janeiro um centro de estudos criminais dessa envergadura.

Prova cabal de um motivo suficiente para render minhas homenagens a São Paulo e aos paulistas. Mas, certamente, outras razões ainda estão por surgir.

Até a próxima.

PS: Por incrível que pareça, o combustível automotivo por aqui é consideravelmente mais barato. Após várias visitas à cidade, só hoje me dei conta desse fato. Nas áreas mais nobres da cidade, encontramos excelentes postos, de bandeiras famosas e recomendadas, com o litro da gasolina vendido a R$ 2,49. Já nas proximidades do aeroporto, os preços caem para algo entre R$ 2,29 e R$ 2,39. Os demais tipos de combustíveis também têm preços bem mais em conta. Precisamos copiar isso...

A LITERATURA ENGRANDECE O DIREITO


Há poucos instantes recebi do Carlos Wehrs - o Bolinha, para os amigos - um e-mail que me deixou admirado. Trazia, em anexo, uma petição escrita em versos rítmicos, cadenciais e com rimas (como pode se verificar na imagem abaixo).


Já tive a oportunidade de debater com diversos operadores do direito - alguns de destacado renome; outros, como eu, ainda com pouca experiência na vida forense - sobre o cabimento de excertos - ou breves textos integrais - de belas obras da literatura nas peças (leiam-se petições, decisões, sentenças, votos, acórdãos e etc.) jurídicas.

Fico impressionado com a resistência que especialmente os jovens concursandos oferecem a textos forenses que não se limitam ao seu aspecto técnico e ao juridiquês, mas fazem uso da argumentação nas suas mais criativas possibilidades, dentre elas utilizando-se de citações de poesias e/ ou qualquer obra literária pertinente à questão.

Desculpem-me os que advogam em sentido contrário, porém, acho que tal posicionamento é de aridez e insensibilidade abissais. É óbvio que o juiz - e também os demais operadores do direito - têm, a todo momento, de observar as normas e, ainda mais imporante, os princípios que orientam o ordenamento de direito pátrio. Entretanto, não podem, sob hipótese alguma, desligarem-se da sensibilidade que só os humanos podem experimentar.

É exatamente o discernimento alicerçado na sensibilidade, nos valores da humanidade, que dá ao magistrado a capacidade de se diferenciar de máquinas e aplicar o bom senso no julgar.

Partindo-se dessa premissa, como negar a necessidade de observarmos as tocantes mensagens que nos são transmitidas por meio das diversas obras culturais oriundas da arte, mormente da literatura?

Citações e reflexões literárias, além de emprestarem uma espetacular beleza às produções textuais jurídicas, servem de parâmetro para construções analógicas que buscam socorro na sensibilidade humana, que nunca deve ser deixada de lado, em qualquer instância do pensamento.

Confesso que me entristeço ao observar o emburrecimento e o embrutecimento coletivos alavancados pela atual busca frenética por aprovações cada vez mais precoces em concursos públicos. As provas, sucessivamente mais objetivas e limitadas à uma doutrina mesquinha, pré-formulada pelos membros das bancas de avaliação, contribuem para o desencadeamento de juízes gélidos e com pouca capacidade reflexiva. Jovens recém formados passam a ocupar importantes cargos na estrutura da República, sem qualquer experiência de vida que os legitimem para tanto.

O que vemos, consequentemente, é uma enxurrada de atos e decisões jurídicas frias, autoritárias e, portanto, injustas. Juízes que recusam a receber advogados em seus gabinetes e julgam apenas com base na sua realidade de mundo que, nesses casos, ressalte-se, é bem limitada.

Por tudo isso, parece-me louvável, um motivo de satisfação, observar o trabalho criativo de um advogado e, mais ainda, a forma receptiva, inteligente, sagaz, sensível e inteligente com que o magistrado o recebeu.

Nessas horas sou tomado por uma alegria indisfarçável. Percebo que somos poucos, mas não estamos sós. É preciso que os juristas observem que o Poder Judiciário faz parte da sociedade e, portanto, não há razão para que, rudemente, se afaste dos valores, das belezas e das vicissitudes que a compõem.

Até a próxima.

PIADA DA ANJ


Ontem a Associação Nacional de Jornais - ANJ - comemorou, com um dia de atraso, seus trinta anos de existência.

O assunto mais abordado pelos oradores que ocuparam a tribuna do evento foi, de longe e sem sombra de dúvida, a questão da liberdade de expressão e as atitudes suspeitas e autoritárias praticadas contra essa característica essencial de um Estado Democrático de Direito.

Até aí, perfeito! Não tenho a menor dúvida de que a imprensa cumpre um papel importantíssimo para a sociedade. Ou melhor, deixem-me começar essa última afirmação de novo. Não tenho a menor dúvida de que a imprensa deveria cumprir um papel importantíssimo para a sociedade, o que, necessariamente, tem de ser feito por meio de um jornalismo sério e isento.

O cômico na comemoração do trigésimo aniversário da ANJ foi quando sua cúpula começou a demonstrar a que veio e a que se presta. Começou por fazer críticas diretas à Rede Record. Eu, particularmente, não tenho nada nem contra nem a favor à emissora. Os mais céticos talvez diriam que essas críticas eram globais. Ah, mas isso diriam os céticos. Os céticos, ora bolas!

Entretanto, o importante não foi nada disso. O ápice do festejo foi o título de sócio honorário da ANJ dado a João Roberto Marinho, que, posteriormente, proferiu um "belo" discurso.

Do púlpito, disse o empresário, ao final de sua intervenção, que "o que conforta é saber que o norte é o mesmo e que, no fim, aqueles que praticam o bom jornalismo serão reconhecidos".

Vejam que ironia, meu caros leitores. João Roberto Marinho, vice-presidente das organizações Globo (aquela mesmo, que se vendeu à ditadura para crescer no mercado), falando em bom jornalismo. Será que ele sabe o que é isso?

Devem estar gozando com a nossa cara. Só pode ser piada!

Até a próxima.

A "VIRGEM"

— Pare já com isso Theófilo, já não te disse que não pode ser assim?! — repreendia Vandinha ao empurrar as mãos do seu noivo, que tentava incessantemente acariciar os delineados quadris de sua amada.

— Mas Vandinha...

— Não tem mais nem menos! Pare de afobação, meu filho. Ainda não está na hora!

Theófilo tentava se controlar diante das observações de sua noiva, a seu ver muito acertadas. Eram, na verdade, motivo de orgulho. Entretanto, por mais que tentasse se conter, não conseguia. Naquela tarde estava a flor da pele.

— Vandinha, minha filha, nós somos noivos há cinco anos! Namoramos outros cinco. Estamos com o casamento marcado para daqui a 3 meses. Nos casaremos em dezembro. Por que me torturar tanto, minha filha? — Insistia, com os hormônios saltitantes.

— Meu bem, já conversamos tanto sobre isso... Não está certo, você sabe. E, além do mais, é a única coisa que meu amado paizinho me pede a todo tempo. Hoje mesmo, antes de você chegar, ao sair de casa ele me chamou a um canto e me advertiu. Precisava ouvir meu pai dizendo: — “Vandinha, minha filha, vais ficar sozinha com teu noivo, mas cuida-te, compreendeste? Cuida-te! É a única coisa que te peço! Teu pai quer ter a honra de entrar naquela igreja de cabeça erguida, com todos desta cidade sabendo que minha filha casou-se moça, de branco, véu e grinalda.”

Theófilo a olhava com uma expressão que misturava admiração, incredulidade e desespero. Mesmo assim, sua noiva continuava:

— Não posso dar essa desonra ao meu paizinho. Tudo, menos desonrar meu paizinho.

— Mas ele não precisa ficar sabendo minha filha, pode entrar de branco, véu...

Antes que Theófilo terminasse a frase, sua noiva o cortou abruptamente, deu um salto, pôs-se à sua frente com o dedo em riste e, com um berro inesperado, o advertiu:

— Como pode dizer isso, seu descarado?! Pensa que eu seria capaz de decepcionar meu paizinho? Além disso, estamos em frente à santa, entendeu bem? Em frente à santa! — repetia Vandinha, apontando para uma imagem de N. Senhora Aparecida que se encontrava sobre um aparador, próximo ao casal.

Alheio aos brados veementes que eram proferidos por sua noiva, Theófilo só conseguia prestar a atenção no corpo de sua amada. Vandinha era uma jovem de aproximadamente vinte anos. Tinha a pele alva e macia como um bebê. Cabelos lisos, ruivos, pouco abaixo dos ombros e sempre muito bem penteados. Olhos limpidamente verdes, grandes e vívidos, que destacavam ainda mais sua beleza.

Ao bradar advertências enfurecidas a Theófilo, estava diante dele com o dedo indicador levantado contra sua face e as costas curvadas em direção ao seu rosto, o que expunha os virtuosos seios por entre seu generoso decote.

Não se pode negar a situação delicada em que se encontrava Theófilo. Vandinha era dona de um invejável colo, ornado com um belo par de seios que, naquele momento, encontrava-se absolutamente despido de qualquer traje íntimo. O decote deixava à mostra as curvas e a sinuosidade do seu busto. O tecido fino fazia com que os mamilos arrepiados de Vandinha marcassem a provocante blusa que vestia.

Percebendo a provocação hipnótica que causava em seu noivo, resolveu incitar mais o pobre-diabo. Ainda curvada, chegou mais próximo do sujeito, colou o dedo em seu nariz e sussurrou baixinho, vagarosamente, como se separasse as sílabas das palavras: — Não po-de. É pe-ca-do, en-ten-deu bem?”

Ao dizer essas palavras, estava tão junto a seu noivo que ele podia sentir o delicioso hálito que exalava de sua boa, com lábios carnudos e dentes brilhantes.

Completamente estupefato, Theófilo procurou desvencilhar-se da sedução de Vandinha. Chegou para o lado no sofá que sentava e deu razão às observações de sua noiva. Sem pestanejar, percebeu que seria melhor ir embora, já que estava a ponto de ter um ataque do coração. Inventou uma desculpa e se despediu da futura esposa.

Caminhava em direção ao Fórum da cidade interiorana em que trabalhava censurando a si mesmo. Não entendia como pôde ter sido tão ousado. Algumas vezes atribuía sua fraqueza à castidade que carregava até aqueles últimos dias dos seus vinte e nove anos. Tinha vivido só para o estudo e para Vandinha. Era juiz de direito. O único, diga-se de passagem, daquela comarca do interior. Respeitadíssimo, orgulhava-se de ter uma mulher tão “valorosa”: “É uma santa a Vandinha. Uma santa. Como pude ter sido tão atrevido e desreseitoso?” — pensava o jovem magistrado.

No dia do casamento tudo saiu como planejado. Vandinha entrava na igreja trajando um lindo vestido branco, de véu e grinalda. Seu pai não conseguia disfarçar o orgulho que sentia em casar sua filha, ainda moça, com um pacato juiz de direito - um partidão, como se dizia por lá. Ao som de uma linda marcha nupcial, a bela nubente dava passos lentos ao encontro do seu noivo, que se desfazia em lágrimas sobre o altar.

Vicente observava atentamente o leve caminhar da noiva. A verdade é que despia Vandinha com os olhos, que transmitiam um fervor de desejos. A certa altura, Theófilo estranhou a forma como sua amada retribuía o olhar daquele perspicaz advogado, famoso na cidade por seu jeito galanteador. Entretanto, espantou os pensamentos e repousou os olhos na amada.

Chegadas as núpcias, Theófilo estava ávido por, finalmente, possuir sua esposa. Mal fechou a porta da suíte em se hospedaram e já se lançou sobre o vestido da mulher, na tentativa de rapidamente abrir aqueles inúmeros botões.

Súbita, Vandinha se livrou do marido, saltou, colocou-se contra a parede e começou a chorar, lamentando-se:

— Não! Me desculpe! Por favor, pare, eu não posso, pare!

— Mas o que foi que eu fiz de errado, meu amor? — indagou Theófilo, assustadíssimo.

— Não é você, meu amor. Sou eu! Você sempre foi muito bom, bom até demais. Chegava, até mesmo, a te achar muito parado, muito respeitador. Mas tenho que te confessar. Eu não sou virgem! Eu não sou virgem! — gritava, aos soluços, Vandinha, que chorava copiosamente.

Vendo a expressão de completa incredulidade com que seu marido a encarava, continuou:

— Eu sei, eu sei que não sou digna para você. Mas eu não podia decepcionar meu paizinho. Era tudo que ele queria, casar a filha ainda moça. Pode deixar, não vou te envergonhar! Amanhã me suicidarei! Me jogarei em frente ao primeiro lotação que passar! Tudo vai parecer um acidente e você poderá ficar livre para se casar com uma mulher dig...

— Pare!!! — gritou Theófilo, interrompendo as lamentações desesperadas de sua esposa. — Pare com tudo isso! Não fale mais besteira! Não vai se suicidar, não faça isso comigo porque não suportarei a dor! — implorava.

— Mas meu bem, eu não sou virgem como esperava. — dizia, assustada, Vandinha.

— Você pensa que sou burro? Posso ter essa cara de bobo, mas não sou burro não. Sou um juiz, entendeu? Um juiz! Não sou burro! Sempre desconfiei da sua troca de olhares e do seu jeito sorridente com aquele advogado, o Vicente. Eu fingia que não via, tentava não acreditar. A verdade é que sempre soube, sempre achei que você se entregava aos braços dele. Por isso era sempre tão racional quando estávamos a sós. Mas, por favor não se mate! Não me deixe! Não suportaria a dor de te perder. É a mulher da minha vida! A única que amei. E não importa que não é mais virgem. Me guardei pra você meu bem. Só me prometa que nunca mais fará isso. Que agora será só de seu marido, promete?

— Prometo! Tudo que quiser meu amor!

Após a jura de amor eterno, Theófilo se lançou sobre sua esposa, dando início a sua tão sonhada noite de núpcias. Passados cinco minutos, acendia um cigarro e revelava sua surpresa: — Eu sabia que esse seria um momento mágico, mas nunca imaginei que pudesse ser tão bom, tão perfeito, não acha meu amor?!

Vandinha, muda, acariciava seu marido e pensava em Vicente, em como queria estar nos braços dele. Assim que percebeu o pecado que cometia, se repreendeu no seu íntimo e tentou afastar aqueles desejos nefastos. Mas não tinha jeito, seu corpo era mesmo do Vicente. Pensando nele que se arrepiava. Já sem conseguir oferecer resistência aos seus desejos, refletia: “Só mais uma vez. Só mais uma vez! Deus perdoa. Há de me perdoar!”

Até a próxima.

PERSEGUIÇÕES DA APAVORADA GLOBO


Dias desses vagava pelos corredores de uma excelente livraria - hábito que insisto em manter - garimpando belas obras literárias quando quase tropecei num sujeito que parecia estar abstraído do mundo real e imerso na narrativa sobre a qual se debruçava.

Constrangido pela interrupção que causei, tentei pedir desculpas da forma mais sucinta possível, quando, ao encará-lo, observei que se tratava de um velho amigo que conheci na minha primeira faculdade - de Relações Internacionais - que há muito tempo não tinha o prazer de encontrar.

Após cumprimentos, comentários sobre a coincidência da eventualidade e considerações outras, perguntei-lhe se ainda trabalhava na Globo News. A partir desse momento a conversa tornou-se ainda mais interessante do que sempre foi.

Ouvi, por alguns instantes, os seus empolgados relatos sobre as atividades que desenvolve a frente de alguns programas jornalísticos televisivos. Quando notei uma pequena brecha, causada pela breve pausa indispensável à respiração, perguntei a ele, propositalmente, como estava o clima da emissora com relação às denúncias feitas contra a Igreja Universal do Reino de Deus e seus líderes.

Sua expressão empolgada nos deixou no mesmo instante em que eu fiz a indagação, dando lugar a um aspecto que misturava surpresa com um certo embaraço. Ao ver sua reação, tratei de logo explicar o porquê da pergunta. Disse-lhe que, apesar de essa ter sido uma notícia importante para a sociedade - muito embora os fatos ainda estejam numa fase muito incipiente do processo penal, de modo que nada está provado nem há qualquer juízo de culpa decretado - estava estranhando o jornal O Globo (normalmente por mim carinhosamente chamado de jornalão carioca), bem como a Rede Globo e a Globo News, insistirem em todos os dias dedicarem significante espaço de suas reportagens às recorrentes notícias sobre a mencionada igreja e seus líderes religiosos.

Nessa hora a resposta daquele competente e ainda promissor jornalista foi desajeitada.

— É, infelizmente tem essas coisas. Mas acho que é em todo lugar, sabe?

— Como assim? — instiguei, fingindo não ter entendido.

— Acho que temos feito um jornalismo bem responsável lá na Globo News. Mas acontece que não tem jeito! Não tem como a gente se esquecer que, antes de ser um canal de jornalismo, é uma empresa. E você sabe, não? Uma empresa tem que se manter, estabelecer lideranças, vender seus produtos, entende?

— Sei. Então vocês estão vendendo a forma de vocês fazerem jornalismo, é isso que você tá me dizendo? — retruquei, querendo instigá-lo ainda mais.

— Não é exatamente isso... — nesse momento, aquele sujeito tão seguro de si, de uma cultura invejável e apresentação irretocável não conseguia disfarçar seu acanhamento diante de uma realidade para ele tão mesquinha. Tentando se explicar um pouco melhor, prosseguiu:

— Pô, vamos ser realistas. Infelizmente, e digo isso com muita tristeza, qualquer empresa precisa de algumas estratégias de mercado pra se firmar, ficar na liderança, enfim, tentar se destacar das demais. Isso traz recursos, melhores condições de trabalho e acaba refletindo até mesmo na possibilidade de se fazer um jornalismo mais responsável.

— Acho que ainda não entendi exatamente o que você tá dizendo. A gente tava falando sobre as várias notícias da Universal, não era? — Insisti na minha dissimulação. Queria vê-lo dizer mais, contar suas próprias impressões sobre algo que parecia lhe incomodar profundamente.

— Ah Felipe, você me entendeu, sei que entendeu... é o seguinte... ó, me promete que nunca dirá a ninguém que te falei isso, ok?

Concordei na mesma hora. Aqui, abro parênteses. Antes que alguns digam que sou um traidor, explico que, exatamente por essa razão preservarei, a todo instante, a identidade do meu amigo com fim de manter minha promessa e preservar-lhe perante seus colegas de trabalho. Fecho os parênteses.

O querido jornalista fez uma pausa, pôs a mão aberta com a palma virada para si sobre a testa, passou-a por todo o rosto até o queixo, tomou um longo fôlego e continuou:

— Vou te contar. Assim que ficamos sabendo da notícia de que tinha uma denúncia contra o bispo Edir Macedo e outros altos membros da Universal, houve uma ordem de cima determinando que fizéssemos algumas reuniões pra tratarmos de uma estratégia de trabalho. No dia seguinte, na hora da reunião, todo mundo recebeu uma pasta com vários textos, documentos e orientações explicando como supostamente funcionaria a Universal e dando detalhes sobre o que sabiam do processo. Tinha também, e principalmente, várias planilhas, estatísticas e informações sobre a Rede Record. Aliás, não só sobre a TV, mas sobre rádio, Record News e etc, tá entendendo?

— E como estou! — respondi.

— Então... Na reunião os diretores foram diretos. Falaram um pouco sobre em que pé estava a situação e depois disseram que queriam uma atuação conjunta de todos os veículos de imprensa das organizações Globo. Foram claros que a ordem prioritária agora era massacrar a Universal, o bispo Macedo, os pastores da igreja, a forma como eles realizam seus cultos e, principalmente, fazer uma ligação disso tudo com a Rede Record. Disseram que era pra bater bastante e todos os dias, mas de uma forma inteligente. Fazer parecer que era apenas uma reportagem isenta que mostrava a verdade. Pra você ter uma ideia, a coisa chegou a um ponto tão deprimente que disseram até que onde houvesse apenas um indício era pra exagerarmos e descermos o pau, abrirmos uma ferida.

Eu fazia uma cara de nojo indisfarçável. Quando meu velho amigo observou que toda aquela história para mim alcançava um grau de repugnância absurdo, tentou se explicar na medida do possível:

— Eu ainda tentei argumentar. Falei que isso não parecia ser tão importante assim. Que há outras coisas muito mais prioritárias para destacarmos e focarmos no dia-a-dia. Mas não teve jeito. Eles disseram cada um de nós tinha uma opção. Se quiséssemos continuar lá, tínhamos que agir assim. Também destacaram que a empresa saberia reconhecer o trabalho de cada um que se dedicasse. Quer ver um exemplo? Você tem ligo O Globo?

— Infelizmente sim. — respondi.

— Pois é, se você observar, todos os dias tem pelo menos uma página, às vezes meia página, dedicada a esse assunto. Dias atrás mandaram um repórter a Campos do Jordão por vários dias, despesa enorme e tal, tudo só por causa de uma casa que parece que a igreja tem lá. E o pior é que muita coisa que publicam eles nem têm toda certeza. O mesmo tipo de coisa estão fazendo no jornalismo televisivo, nas revistas e etc. Mas tudo isso sabe por quê? Foi a oportunidade que tiveram pra tentarem arruinar a Rede Record.

Como assim? Explica isso melhor. insisti.

— Um dos diretores foi muito enfático. Falou que era pra nós acompanharmos o que ele dizia pelas planilhas com informações sobre o crescimento absurdo que teve a Record dentro desse pouco tempo em que está sob nova administração. Disse que isso tudo era culpa da Universal e do Macedo. Que se a Record continuasse desse jeito, em pouco tempo iria se equivaler à Globo e que isso, obviamente, poderia ser um problema pra todos nós. Falou que essa era uma excelente oportunidade de garantir o lugar da Globo na liderança e que eles não iriam parar de pressionar o poder público pra agir nesse sentido, tentando, ao máximo, massacrar a igreja e, de alguma forma, também a Record. Toda essa sujeira só por medo da Record, entendeu? Tudo medo da Record...

Apesar da náusea que sinta diante dos detalhes daquele relato, cheguei a ficar com pena do meu amigo. Ele, choramingando, desabafou:

— Poxa, eu tenho que trabalhar. Preciso pagar minhas contas. Tô no começo. Tenho medo de largar o ótimo posto que consegui nesse tempo que tô lá. Mas não acho legal trabalhar dessa forma. Será que nós não poderíamos apenas nos preocupar em fazer nosso trabalho dignamente? Acho que esse que é o jeito de ser melhor, de liderar...

Pus a mão direita sobre seu ombro esquerdo, deixei que visse minha expressão de consolação e fiquei mudo por breves segundos. Dei-lhe um abraço com tapinhas nas costas e disse:

— Acho que você deve agir de acordo com sua consciência. Pra colocar sua cabeça no travesseiro a noite e dormir em paz, entende? Tenho certeza que vai achar a resposta certa.

Pusemos um fim naquela conversa e desejamos sucesso reciprocamente. Saí da livraria em passos apertados para casa, ávido por lhes contar essa história tão assustadora.

Queria que vocês, meus queridos leitores, "ouvissem da boca" de alguém isento e comprometido com a própria empresa carioca de comunicação. Assim, ninguém poderá dizer que eu estou com perseguição ou implicância globais. Tirem suas próprias conclusões. Eu já tirei as minhas.

Até a próxima.

A TIRANA TRAVESTIDA DE DEMOCRÁTICA


Dia desses, navegava pela internet lendo matérias jornalísticas e pesquisando textos de sítios interessantes quando, de repente - e absolutamente ao acaso - deparei-me com o blog da atual ministra e candidata à presidência da república, Dilma Rousseff (vejam aqui, se tiverem estômago).

É óbvio que o lógico seria esperar por uma página que louvasse os feitos e as opiniões da ministra e dos seus correligionários, bem como, buscasse, de uma forma civilizada - ao menos é o que suponho ser adequado - diminuir ou criticar a postura de seus adversários políticos.

Apesar de muitas vezes acreditar, ingenuamente, que nada mais me surpreende nesse mundo de politicagem - que, diga-se de passagem, é absolutamente diferente do ambiente dignamente, se é que existe, político - o blog da "pré"-candidata deixou-me boquiaberto e estupefato.

Passei alguns longos instantes - pareciam infindos - lendo os artigos publicados no tal veículo de divulgação de campanha (convenhamos, é isto que aquele blog é) e, a cada linha lida, mais indignado e embasbacado eu me tornava.

Pausa para parênteses. Quero deixar claro, desde já, que, embora possa inicialmente parecer, não estou aqui fazendo campanha contra a Dilma. Daqui da TRIBUNA, ao falar de qualquer assunto relacionado a política, desempenho o mais claro papel de advogado do diabo. Coloco o dedo na ferida de quem quer que seja, sem partidarismos, preferências por este ou aquele ou ideologia pré-concebida; tudo dentro dos limites do que Max Weber entendia ser possível. Fecham-se os parênteses.

O que mais me causou espécie foi a intolerância da candidata. É impressionante como nada nem ninguém deixa de ser completamente execrado, ridicularizado e ofendido pela ministra se com ela não dividir as mesmíssimas opiniões.

Eu não tenho dúvidas que uma candidata à presidência deva ter conlusões fortes e fazer esforços para demonstrar que suas opções são as mais acertadas. Mas estou ainda mais convicto de que o representante máximo deste país, quem quer que seja, precisa ser tolerante, justo e democrático.

O que a chefona Dilma nos revela em seu blog é exatamente o oposto. Há, por lá, um festival de intolerância. Uma postura digna de tiranos outrora tão veementemente combatidos pela candidata.

Todos (eu disse todos!) os posts que versavam sobre políticos ou membros da sociedade civil que elevam vozes em qualquer direção minimamente diferente das ações da candidata eram destinatários dos maiores impropérios que se pode esperar de uma pessoa pública, ocupante de um cargo tão importante na direção da nação.

Além disso, os únicos elogios (escassos, ressalte-se) existentes no veículo de comunicação citado eram para aqueles que, de alguma forma, louvavam a ministra e/ ou a escolha do presidente Lula em apoiar a sua candidatura. A mensagem era clara: só é inteligente ou digno aquele que apóia a Dilma e o faz claramente. Qualquer posicionamento contrário já é suficiente para uma enxurrada de ofensas.

Após ler o tal blog, veio à minha cabeça a última eleição presidencial, em que o Lula foi reconduzido ao posto. Lembrei-me de que, sob fortes acusações de relação ou, ao menos, tolerância com o mensalão, Lula dizia que seus adversários só sabiam falar disso; que não traziam propostas políticas, projetos ou discussões saudáveis para a disputa. Concordo, em parte, com o presidente. De fato, ao meu ver, é fundamental que o foco principal dos candidatos ao principal cargo da república seja discutir propostas e bons projetos para solucionar os diversos problemas que assolam o Brasil. Entretanto, em um país cujo povo tem memória curtíssima, também é indispensável que não deixemos de lembrar a toda a população os deslizes, erros e absurdos cometidos por cada canditado, sem qualquer distinção.

Pois bem, apesar daquele claro posicionamento presidencial, à época completamente apoiado pela Dilma, o que vemos hoje é uma postura diametralmente oposta da candidata. Ao que me parece, seu blog é dedicado, exclusivamente, a atacar incessantemente a oposição. Não há, ali, discussões políticas, mas apenas investidas agressivas desenfreadas, como se o ideal para o país fosse um partido único, bem semelhante aos regimes tiranos.

Ainda estou a pensar. Se antes do início da campanha oficial à presidência da república a ministra já se porta dessa maneira, absolutamente despótica, imaginem só como será sua postura se eleita. Parece que a Dilma muito aprendeu e anda inspirada em seus velhos inimigos, aqueles ditadores de farda que tanto assombram nossas memórias.

Até a próxima.

PRECIOSIDADE 2


Já tive a oportunidade de lhes falar, meus queridos leitores, sobre a importância dos blogs no que eu chamei de uma revolução da internet (leiam aqui), em que qualquer pessoa com uma boa idéia pode torná-la pública e, assim, contribuir sobremaneira para o desenvolvimento cultural da sociedade.

Naquela oportunidade presenteei-lhes com um precioso texto extraído de um dos blogs de minha preferência, o Pendura essa.

Hoje quero apresentar, para aqueles que ainda não tiveram o prazer de conhecer, o Álcroônicas, outro maravilhoso sítio eletrônico em que podem ser encontrados textos sensacionais, inteligentes, bem-humorados e de escrita admirável.

Aqueles que me conhecem um pouco mais sabem da minha admiração pelas crônicas e pelos grandes cronistas. Quando pus os olhos nos textos do Thiago Panza Guerzon, proprietário do blog mencionado, tive momentos de deleite com uma leitura absolutamente aprazível que me fez recordar, em muito, as excepcionais obras do grande mestre Nelson Rodrigues.

Com a devida autorização do autor, trago, abaixo, uma dessas preciosidades na íntegra, entitulada "O amar de Maria do lar". Com vocês, Thiago Panza Guerzon.

Não era um lar diferente dos normais. Na sala, um sofá de três lugares, duas poltronas, mesinha de centro e um móvel aparador com a televisão. No banheiro, o vaso, a pia, um espelhinho e o boxe com o chuveiro elétrico, o básico. Na cozinha, um fogão de quatro bocas, um microondas, uma cafeteira preta e uma imensa geladeira, com o congelador separado. No quarto, a cama de casal, dois criados mudos e um guarda-roupa de porta corrediça. O apartamento de Célio e Maria era normalmente decorado como os demais apartamentos de recém-casados.

Apesar da formação superior quase completa, Maria fez questão de não trabalhar fora, largou tudo e se tornou dona do lar, - Com todo o prazer. – Adorava citar em frase quando falavam sobre esse assunto. Queria mesmo era cuidar do marido e dos filhos. Célio, o marido, passava a maior parte do dia fora de casa, trabalhava numa agencia de publicidade e a noite cursava o mestrado. Sempre teve a vida muito paparicada pelos pais, por isso resolveu juntar os trapos com a noiva antes mesmo de terminar os estudos extracurriculares, tudo para sair logo da barra da saia da mãe.

Seria um casal comum, um pouco retrógrado talvez, mas normal, se não fosse pelo extremo marianismo que a esposa sofria. Maria glorificava demasiadamente a maternidade e os valores morais da família, tomava as rédeas de tudo dentro das quatro paredes e servia de submissa aos desejos do marido, mesmo quando ele não os desejava. Célio não percebeu a síndrome excepcional da esposa antes do casamento, a achava apenas prestativa ao extremo, só notou a paranóia na primeira semana de casado.

O marido, certo dia, encontrou a camisa de trabalho muito amarrotada, pegou a tábua de passar ao lado da geladeira e ajeitou-a no centro da sala para passar a camisa. Maria, lá do quarto, escutou a movimentação do marido e rapidamente se levantou. Ainda descabelada, empurrou-o pro lado e disse que passar roupa era função de mulher. O marido tentou argumentar, mas foi em vão.

Na mesma noite, quando resolveram jantar fora, Célio, depois de chamar o táxi, abriu uma das portas do carro pra esposa entrar e ela, intempestivamente, abriu e entrou por outra. Ele entrou no carro como se nada tivesse acontecido, passou o braço sobre o ombro da esposa e ficou calado. Na mesa do restaurante, a mesma coisa, ele puxou uma das cadeiras e Maria sentou-se em outra. Foi nesse momento que Célio se preocupou e analisou. Apavorado com a situação, resolveu contar pra alguém e, de primeira, lembrou do pai.

- Que ótimo! – Disse o pai com clara alegria. – Deu sorte filhão, ainda bem que você não arrumou uma chata como a sua mãe...

Célio preferiu não escutar os conselhos do pai e correu pra mãe.

- Que ótima norinha é a minha. – Disse a mãe, também com os olhos brilhando. – Bom que ela cuida muito bem do meu filhinho. Pedi muito à Deus....

Ele saiu e deixou a mãe falando sozinha. Foi procurar Carlão, o amigo fanfarrão que já havia passado por quatro casamentos.

- Nossa! – Exclamou o amigo em êxtase. - Essa é a melhor raça de mulher. Aceitam até amante, sabia?

Célio desistiu de conselhos e parou num boteco, um belo pé sujo, bem perto da nova casa, o qual nunca havia frequentado. Resolveu afogar as mágoas. Pediu uma cerveja e o dono do bar percebendo que se tratava de um novo cliente, puxou assunto. Depois de algumas cervejas e contar toda a história, Célio foi apresentado ao grande Telmo.

Ex-psicólogo, ex-corno, ex-marido e expulso dos Alcoólatras Anônimos, Telmo tinha uma centenária e quase anormal experiência de vida. Carregava a fama de resolver qualquer tipo de problema, do matemático ao problemático, do filho macho aflorado à filha fêmea destrambelhada. Depois que Célio contou novamente a história nos mínimos detalhes, Telmo logo veio com a resolução do problema.

- Simples e fácil. Você deve ser mais machista, contar piadas escrotas e agir como um leão de chácara.

Célio não pensou em outra forma, a não ser, seguir à risca o que o grande Telmo indicou. Assim que entrou em casa, sem limpar os sapatos, se jogou no sofá e ordenou que a esposa fritasse alguns torresmos. Ela fritou sem reclamar e ainda o serviu com uma cerveja estupidamente gelada.

- Meu amor, você sabe qual é a melhor parte do sexo oral?

- Não sei. – Respondeu rapidamente a mulher.

- Dez minutos de silêncio. Aliás, é o único modo de calar sua boca. – Riu.

Assim que terminou a cerveja, Maria trouxe outra. Fritou lingüiça e fatiou o pão francês. Célio, que não fumava, acendeu um cigarro de palha e bateu a cinza no chão. Entornou a cerveja no piso encerado e limpou a mão engordurada na manta do sofá.

- Sabe o que aconteceu com o homem que finalmente entendeu as mulheres?

Ela balançou a cabeça negando.

- Morreu de rir antes de conseguir contar pra alguém. – Respondeu aos gargalhos.

- Qual a diferença entre a mulher e a maquina de lavar roupas? – Perguntou.

Ele não esperou uma resposta e disse:

- A mulher também lava louças.

Bastante embriagado, agarrou a esposa pelos braços e a despiu por inteiro. Pegou-a nos braços e levou até o quarto. Arrancou a roupa de qualquer jeito e pulou em cima da mulher. Não deixou que ela falasse durante todo o ato, tomou conta das posições e velocidades, até cedeu uns tapas. Terminou, virou para o lado e desmaiou.

Acordou com a boca seca e a esposa não estava mais do lado. A cabeça latejava, levantou para beber água e no caminho notou que a mesa da sala estava posta com um imenso café da manhã. Não estranhou, continuou o caminho e quando alcançou a geladeira avistou um bilhete pendurado:

“MEU MACHO MOR, fui ao supermercado e já volto. O café está na mesa. Beijos e te amo”.

Até a próxima.