A "VIRGEM"

— Pare já com isso Theófilo, já não te disse que não pode ser assim?! — repreendia Vandinha ao empurrar as mãos do seu noivo, que tentava incessantemente acariciar os delineados quadris de sua amada.

— Mas Vandinha...

— Não tem mais nem menos! Pare de afobação, meu filho. Ainda não está na hora!

Theófilo tentava se controlar diante das observações de sua noiva, a seu ver muito acertadas. Eram, na verdade, motivo de orgulho. Entretanto, por mais que tentasse se conter, não conseguia. Naquela tarde estava a flor da pele.

— Vandinha, minha filha, nós somos noivos há cinco anos! Namoramos outros cinco. Estamos com o casamento marcado para daqui a 3 meses. Nos casaremos em dezembro. Por que me torturar tanto, minha filha? — Insistia, com os hormônios saltitantes.

— Meu bem, já conversamos tanto sobre isso... Não está certo, você sabe. E, além do mais, é a única coisa que meu amado paizinho me pede a todo tempo. Hoje mesmo, antes de você chegar, ao sair de casa ele me chamou a um canto e me advertiu. Precisava ouvir meu pai dizendo: — “Vandinha, minha filha, vais ficar sozinha com teu noivo, mas cuida-te, compreendeste? Cuida-te! É a única coisa que te peço! Teu pai quer ter a honra de entrar naquela igreja de cabeça erguida, com todos desta cidade sabendo que minha filha casou-se moça, de branco, véu e grinalda.”

Theófilo a olhava com uma expressão que misturava admiração, incredulidade e desespero. Mesmo assim, sua noiva continuava:

— Não posso dar essa desonra ao meu paizinho. Tudo, menos desonrar meu paizinho.

— Mas ele não precisa ficar sabendo minha filha, pode entrar de branco, véu...

Antes que Theófilo terminasse a frase, sua noiva o cortou abruptamente, deu um salto, pôs-se à sua frente com o dedo em riste e, com um berro inesperado, o advertiu:

— Como pode dizer isso, seu descarado?! Pensa que eu seria capaz de decepcionar meu paizinho? Além disso, estamos em frente à santa, entendeu bem? Em frente à santa! — repetia Vandinha, apontando para uma imagem de N. Senhora Aparecida que se encontrava sobre um aparador, próximo ao casal.

Alheio aos brados veementes que eram proferidos por sua noiva, Theófilo só conseguia prestar a atenção no corpo de sua amada. Vandinha era uma jovem de aproximadamente vinte anos. Tinha a pele alva e macia como um bebê. Cabelos lisos, ruivos, pouco abaixo dos ombros e sempre muito bem penteados. Olhos limpidamente verdes, grandes e vívidos, que destacavam ainda mais sua beleza.

Ao bradar advertências enfurecidas a Theófilo, estava diante dele com o dedo indicador levantado contra sua face e as costas curvadas em direção ao seu rosto, o que expunha os virtuosos seios por entre seu generoso decote.

Não se pode negar a situação delicada em que se encontrava Theófilo. Vandinha era dona de um invejável colo, ornado com um belo par de seios que, naquele momento, encontrava-se absolutamente despido de qualquer traje íntimo. O decote deixava à mostra as curvas e a sinuosidade do seu busto. O tecido fino fazia com que os mamilos arrepiados de Vandinha marcassem a provocante blusa que vestia.

Percebendo a provocação hipnótica que causava em seu noivo, resolveu incitar mais o pobre-diabo. Ainda curvada, chegou mais próximo do sujeito, colou o dedo em seu nariz e sussurrou baixinho, vagarosamente, como se separasse as sílabas das palavras: — Não po-de. É pe-ca-do, en-ten-deu bem?”

Ao dizer essas palavras, estava tão junto a seu noivo que ele podia sentir o delicioso hálito que exalava de sua boa, com lábios carnudos e dentes brilhantes.

Completamente estupefato, Theófilo procurou desvencilhar-se da sedução de Vandinha. Chegou para o lado no sofá que sentava e deu razão às observações de sua noiva. Sem pestanejar, percebeu que seria melhor ir embora, já que estava a ponto de ter um ataque do coração. Inventou uma desculpa e se despediu da futura esposa.

Caminhava em direção ao Fórum da cidade interiorana em que trabalhava censurando a si mesmo. Não entendia como pôde ter sido tão ousado. Algumas vezes atribuía sua fraqueza à castidade que carregava até aqueles últimos dias dos seus vinte e nove anos. Tinha vivido só para o estudo e para Vandinha. Era juiz de direito. O único, diga-se de passagem, daquela comarca do interior. Respeitadíssimo, orgulhava-se de ter uma mulher tão “valorosa”: “É uma santa a Vandinha. Uma santa. Como pude ter sido tão atrevido e desreseitoso?” — pensava o jovem magistrado.

No dia do casamento tudo saiu como planejado. Vandinha entrava na igreja trajando um lindo vestido branco, de véu e grinalda. Seu pai não conseguia disfarçar o orgulho que sentia em casar sua filha, ainda moça, com um pacato juiz de direito - um partidão, como se dizia por lá. Ao som de uma linda marcha nupcial, a bela nubente dava passos lentos ao encontro do seu noivo, que se desfazia em lágrimas sobre o altar.

Vicente observava atentamente o leve caminhar da noiva. A verdade é que despia Vandinha com os olhos, que transmitiam um fervor de desejos. A certa altura, Theófilo estranhou a forma como sua amada retribuía o olhar daquele perspicaz advogado, famoso na cidade por seu jeito galanteador. Entretanto, espantou os pensamentos e repousou os olhos na amada.

Chegadas as núpcias, Theófilo estava ávido por, finalmente, possuir sua esposa. Mal fechou a porta da suíte em se hospedaram e já se lançou sobre o vestido da mulher, na tentativa de rapidamente abrir aqueles inúmeros botões.

Súbita, Vandinha se livrou do marido, saltou, colocou-se contra a parede e começou a chorar, lamentando-se:

— Não! Me desculpe! Por favor, pare, eu não posso, pare!

— Mas o que foi que eu fiz de errado, meu amor? — indagou Theófilo, assustadíssimo.

— Não é você, meu amor. Sou eu! Você sempre foi muito bom, bom até demais. Chegava, até mesmo, a te achar muito parado, muito respeitador. Mas tenho que te confessar. Eu não sou virgem! Eu não sou virgem! — gritava, aos soluços, Vandinha, que chorava copiosamente.

Vendo a expressão de completa incredulidade com que seu marido a encarava, continuou:

— Eu sei, eu sei que não sou digna para você. Mas eu não podia decepcionar meu paizinho. Era tudo que ele queria, casar a filha ainda moça. Pode deixar, não vou te envergonhar! Amanhã me suicidarei! Me jogarei em frente ao primeiro lotação que passar! Tudo vai parecer um acidente e você poderá ficar livre para se casar com uma mulher dig...

— Pare!!! — gritou Theófilo, interrompendo as lamentações desesperadas de sua esposa. — Pare com tudo isso! Não fale mais besteira! Não vai se suicidar, não faça isso comigo porque não suportarei a dor! — implorava.

— Mas meu bem, eu não sou virgem como esperava. — dizia, assustada, Vandinha.

— Você pensa que sou burro? Posso ter essa cara de bobo, mas não sou burro não. Sou um juiz, entendeu? Um juiz! Não sou burro! Sempre desconfiei da sua troca de olhares e do seu jeito sorridente com aquele advogado, o Vicente. Eu fingia que não via, tentava não acreditar. A verdade é que sempre soube, sempre achei que você se entregava aos braços dele. Por isso era sempre tão racional quando estávamos a sós. Mas, por favor não se mate! Não me deixe! Não suportaria a dor de te perder. É a mulher da minha vida! A única que amei. E não importa que não é mais virgem. Me guardei pra você meu bem. Só me prometa que nunca mais fará isso. Que agora será só de seu marido, promete?

— Prometo! Tudo que quiser meu amor!

Após a jura de amor eterno, Theófilo se lançou sobre sua esposa, dando início a sua tão sonhada noite de núpcias. Passados cinco minutos, acendia um cigarro e revelava sua surpresa: — Eu sabia que esse seria um momento mágico, mas nunca imaginei que pudesse ser tão bom, tão perfeito, não acha meu amor?!

Vandinha, muda, acariciava seu marido e pensava em Vicente, em como queria estar nos braços dele. Assim que percebeu o pecado que cometia, se repreendeu no seu íntimo e tentou afastar aqueles desejos nefastos. Mas não tinha jeito, seu corpo era mesmo do Vicente. Pensando nele que se arrepiava. Já sem conseguir oferecer resistência aos seus desejos, refletia: “Só mais uma vez. Só mais uma vez! Deus perdoa. Há de me perdoar!”

Até a próxima.

2 Responses
  1. Muito bom o texto!
    Ahhh Vandinha!

    Abraços!


  2. Fico feliz que tenha gostado Thiago!
    Todo aluno se sente lisonjeado com elogios professor. rs
    Abraços.