PRECIOSIDADE 2


Já tive a oportunidade de lhes falar, meus queridos leitores, sobre a importância dos blogs no que eu chamei de uma revolução da internet (leiam aqui), em que qualquer pessoa com uma boa idéia pode torná-la pública e, assim, contribuir sobremaneira para o desenvolvimento cultural da sociedade.

Naquela oportunidade presenteei-lhes com um precioso texto extraído de um dos blogs de minha preferência, o Pendura essa.

Hoje quero apresentar, para aqueles que ainda não tiveram o prazer de conhecer, o Álcroônicas, outro maravilhoso sítio eletrônico em que podem ser encontrados textos sensacionais, inteligentes, bem-humorados e de escrita admirável.

Aqueles que me conhecem um pouco mais sabem da minha admiração pelas crônicas e pelos grandes cronistas. Quando pus os olhos nos textos do Thiago Panza Guerzon, proprietário do blog mencionado, tive momentos de deleite com uma leitura absolutamente aprazível que me fez recordar, em muito, as excepcionais obras do grande mestre Nelson Rodrigues.

Com a devida autorização do autor, trago, abaixo, uma dessas preciosidades na íntegra, entitulada "O amar de Maria do lar". Com vocês, Thiago Panza Guerzon.

Não era um lar diferente dos normais. Na sala, um sofá de três lugares, duas poltronas, mesinha de centro e um móvel aparador com a televisão. No banheiro, o vaso, a pia, um espelhinho e o boxe com o chuveiro elétrico, o básico. Na cozinha, um fogão de quatro bocas, um microondas, uma cafeteira preta e uma imensa geladeira, com o congelador separado. No quarto, a cama de casal, dois criados mudos e um guarda-roupa de porta corrediça. O apartamento de Célio e Maria era normalmente decorado como os demais apartamentos de recém-casados.

Apesar da formação superior quase completa, Maria fez questão de não trabalhar fora, largou tudo e se tornou dona do lar, - Com todo o prazer. – Adorava citar em frase quando falavam sobre esse assunto. Queria mesmo era cuidar do marido e dos filhos. Célio, o marido, passava a maior parte do dia fora de casa, trabalhava numa agencia de publicidade e a noite cursava o mestrado. Sempre teve a vida muito paparicada pelos pais, por isso resolveu juntar os trapos com a noiva antes mesmo de terminar os estudos extracurriculares, tudo para sair logo da barra da saia da mãe.

Seria um casal comum, um pouco retrógrado talvez, mas normal, se não fosse pelo extremo marianismo que a esposa sofria. Maria glorificava demasiadamente a maternidade e os valores morais da família, tomava as rédeas de tudo dentro das quatro paredes e servia de submissa aos desejos do marido, mesmo quando ele não os desejava. Célio não percebeu a síndrome excepcional da esposa antes do casamento, a achava apenas prestativa ao extremo, só notou a paranóia na primeira semana de casado.

O marido, certo dia, encontrou a camisa de trabalho muito amarrotada, pegou a tábua de passar ao lado da geladeira e ajeitou-a no centro da sala para passar a camisa. Maria, lá do quarto, escutou a movimentação do marido e rapidamente se levantou. Ainda descabelada, empurrou-o pro lado e disse que passar roupa era função de mulher. O marido tentou argumentar, mas foi em vão.

Na mesma noite, quando resolveram jantar fora, Célio, depois de chamar o táxi, abriu uma das portas do carro pra esposa entrar e ela, intempestivamente, abriu e entrou por outra. Ele entrou no carro como se nada tivesse acontecido, passou o braço sobre o ombro da esposa e ficou calado. Na mesa do restaurante, a mesma coisa, ele puxou uma das cadeiras e Maria sentou-se em outra. Foi nesse momento que Célio se preocupou e analisou. Apavorado com a situação, resolveu contar pra alguém e, de primeira, lembrou do pai.

- Que ótimo! – Disse o pai com clara alegria. – Deu sorte filhão, ainda bem que você não arrumou uma chata como a sua mãe...

Célio preferiu não escutar os conselhos do pai e correu pra mãe.

- Que ótima norinha é a minha. – Disse a mãe, também com os olhos brilhando. – Bom que ela cuida muito bem do meu filhinho. Pedi muito à Deus....

Ele saiu e deixou a mãe falando sozinha. Foi procurar Carlão, o amigo fanfarrão que já havia passado por quatro casamentos.

- Nossa! – Exclamou o amigo em êxtase. - Essa é a melhor raça de mulher. Aceitam até amante, sabia?

Célio desistiu de conselhos e parou num boteco, um belo pé sujo, bem perto da nova casa, o qual nunca havia frequentado. Resolveu afogar as mágoas. Pediu uma cerveja e o dono do bar percebendo que se tratava de um novo cliente, puxou assunto. Depois de algumas cervejas e contar toda a história, Célio foi apresentado ao grande Telmo.

Ex-psicólogo, ex-corno, ex-marido e expulso dos Alcoólatras Anônimos, Telmo tinha uma centenária e quase anormal experiência de vida. Carregava a fama de resolver qualquer tipo de problema, do matemático ao problemático, do filho macho aflorado à filha fêmea destrambelhada. Depois que Célio contou novamente a história nos mínimos detalhes, Telmo logo veio com a resolução do problema.

- Simples e fácil. Você deve ser mais machista, contar piadas escrotas e agir como um leão de chácara.

Célio não pensou em outra forma, a não ser, seguir à risca o que o grande Telmo indicou. Assim que entrou em casa, sem limpar os sapatos, se jogou no sofá e ordenou que a esposa fritasse alguns torresmos. Ela fritou sem reclamar e ainda o serviu com uma cerveja estupidamente gelada.

- Meu amor, você sabe qual é a melhor parte do sexo oral?

- Não sei. – Respondeu rapidamente a mulher.

- Dez minutos de silêncio. Aliás, é o único modo de calar sua boca. – Riu.

Assim que terminou a cerveja, Maria trouxe outra. Fritou lingüiça e fatiou o pão francês. Célio, que não fumava, acendeu um cigarro de palha e bateu a cinza no chão. Entornou a cerveja no piso encerado e limpou a mão engordurada na manta do sofá.

- Sabe o que aconteceu com o homem que finalmente entendeu as mulheres?

Ela balançou a cabeça negando.

- Morreu de rir antes de conseguir contar pra alguém. – Respondeu aos gargalhos.

- Qual a diferença entre a mulher e a maquina de lavar roupas? – Perguntou.

Ele não esperou uma resposta e disse:

- A mulher também lava louças.

Bastante embriagado, agarrou a esposa pelos braços e a despiu por inteiro. Pegou-a nos braços e levou até o quarto. Arrancou a roupa de qualquer jeito e pulou em cima da mulher. Não deixou que ela falasse durante todo o ato, tomou conta das posições e velocidades, até cedeu uns tapas. Terminou, virou para o lado e desmaiou.

Acordou com a boca seca e a esposa não estava mais do lado. A cabeça latejava, levantou para beber água e no caminho notou que a mesa da sala estava posta com um imenso café da manhã. Não estranhou, continuou o caminho e quando alcançou a geladeira avistou um bilhete pendurado:

“MEU MACHO MOR, fui ao supermercado e já volto. O café está na mesa. Beijos e te amo”.

Até a próxima.
2 Responses
  1. Grande Felipe!

    Fiquei bastante feliz quando você fez o comentário no meu blog e aguardei ansiosamente esse post, e adorei-o (colocarei até um link dele no meu blog, pode ser?). Agradeço bastante essa divulgação é uma honra pra mim. hehehe. Foi bom que também conheci o seu e agora, como sou viciado em crônicas, sempre passarei por aqui!

    Novamente, muito obrigado!!

    Abração!


  2. ipaco Says:

    Legal, Felipe. O Thiago é craque. Abraço.